Desde o ano de 1994, quando se deu o lançamento do Plano Real, nosso país passou a registrar índices de inflação bem mais civilizados, comparativamente ao que foi vivenciado nas quatro décadas anteriores e isso trouxe grandes benefícios aos gestores que puderam assim dedicar o tempo com mais ênfase ao planejamento estratégico de longo prazo, deixando de lado aquela paranoia de reajustes de preço frequentes que desorganizavam os negócios sem distinção. Passamos a ter mais previsibilidade nos negócios, sem dúvida.
De fato a média anual da inflação brasileira, medida pelo IPCA, no período de 1995 até final de 2004 alcançou 9%, enquanto de 2005 até o ano passado – 2015 – tivemos média anual de 5,8%. Um avanço, certo? Eu diria menos mal! Sim porque inflação interna nos Estados Unidos da América – média anual – foi de 2,4% e 2,3% respectivamente nos mesmos períodos. Uma enorme diferença que atinge fortemente a competitividade nos negócios.
Além da questão da inflação de preços nos insumos adquiridos localmente e da mão de obra, o executivo no Brasil mais que em outras regiões precisa cuidar de outro ingrediente importante que é a volatilidade do câmbio decorrente da fragilidade da moeda local. Não que as economias desenvolvidas não sofram com o valor da moeda, mas sem dúvida em nosso país as mudanças são mais bruscas e inesperadas.
Outras questões que afetam os custos dos negócios mundo afora são a variação dos preços das “commodities”, como cereais, petróleo e metais das quais também não estamos livres, aqui no Brasil.
A influência negativa que é causada pela inflação nos custos da organização continua exigindo particular atenção do gestor financeiro é verdade, mas deve merecer interesse de outras áreas como as de: Suprimentos, Produção, Vendas e até de Recursos Humanos. Não é permitido descuidar dessa questão, pois de outra forma a rentabilidade do negócio pode ser corroída rapidamente e, em situações mais graves, ocasiona até a falência da empresa.
Certa vez durante o processo de entrevista em um novo empregador me perguntaram como costumava lidar com o ambiente de inflação brasileiro e que ações concretamente eu tomava para mitigar ou, se possível, eliminar qualquer impacto negativo na rentabilidade do negócio. Sim! Isso é importante e naquele caso particular parecia que a empresa havia “perdido o passo” com a elevação dos custos internos de tal forma que o lucro de uma média de 14% sobre as vendas líquidas já chegava perto de zero e isso tinha acontecido num espaço de ano e meio, mesmo com o volume de vendas em alta e mix de produto vendido muito próximo da realidade do negócio.
Para poder fazer a gestão dos custos de modo eficaz e manter a lucratividade do empreendimento algumas medidas se tornam extremamente importantes, além de simplesmente ter uma organização de Compras “afiada” e buscando incessantemente por diminuição dos preços pagos a fornecedores seja por negociação ou até trocando de fonte de suprimento.
A empresa como um todo necessita cuidar da evolução dos preços de materiais, mão de obra e serviços tomando ações imediatas no combate ao aumento dos valores pagos. Simples assim!!
Não dá para aceitar a inflação pela inflação!! Lamentavelmente no Brasil ainda somos muito acomodados com a tendência de alta dos preços. De fato não abandonamos ainda a tal de “memória inflacionária”, apesar do relativo sucesso do Plano Real.
Mas afinal qual é a inflação interna da empresa?
Essa me parece ser a primeira questão a ser respondida pelo gestor. Em nosso país temos uma lista imensa de índices de inflação e cada um parece adotar aquela que lhe traga mais vantagens, certo? Porém devemos reconhecer que a inflação de custos em uma organização pode ser diferente de outra, ainda que atuem no mesmo segmento de mercado.
Eu defendo a adoção de índice de inflação interno, com base nos elementos de custo e despesa da empresa. É preciso aqui medir em profundidade cada um dos itens da demonstração de resultados e ainda detalhar o que compõe o custo de produção, no caso de uma empresa industrial. Adicione ao cálculo a representatividade de cada elemento de gasto (custo ou despesa), ou seja, faça a ponderação para chegar ao índice médio total. Depois assuma o que move o deslocamento do preço do item: acordo salarial seria IPCA+%produtividade? Quanto?; taxa cambial? No caso de serviços contratados é adotado IGPM? Mão de obra também e com IPCA/acordo salarial? Quanto? E por aí vai!
Outra ferramenta de grande importância no monitoramento dos custos e do impacto da inflação é a prática de estabelecer o “custo de reposição” do item produzido, ou importado. O custo de reposição do produto deve respeitar a estrutura do produto – seus componentes, mão de obra aplicada e processos de industrialização. É conveniente promover revisões periódicas do custo de reposição semestralmente, se possível, ou então uma vez ao ano de forma mandatória.
A política comercial que orienta os preços de venda por produto/segmento deve exigir avaliações costumeiras da rentabilidade das linhas de produto e disparar imediata ação de ajuste uma vez que se detecta modificação do nível de custo. Não é possível deixar para depois. A área comercial deve estar engajada nessa missão, mas claro que não se pode deixar de observar os passos da concorrência.
Resumindo: com inflação não se brinca! A evolução dos preços, e sabidamente na maior parte das vezes para cima, pode afetar os custos internos da empresa e levá-la à bancarrota. Meça o custo interno e monitore a evolução, mantenha a organização com espírito “anti-inflação” e tome ações corretivas para manter a lucratividade do negócio!
Bons negócios!!