Lições aprendidas na Governança; ou não?

Os problemas resultantes da má gestão, ou melhor, da má governança nos negócios parecem não ter fim por mais que haja esforço enorme no mundo para que os empreendimentos sejam dotados de boas práticas de gestão e excelente comportamento tanto de seus líderes como também de suas pessoas.

Vejam alguns que selecionei para nossa reflexão:

  • O “crash” da Bolsa de Nova York em 1929 provocou depressão econômica e pobreza com perda do emprego e da renda, no mundo desenvolvido, por quase uma década e segundo estudiosos teria sido provocado por: a) poupança aplicada em papéis não sustentados por investimentos produtivos; b) especulação generalizada e a procura por enriquecimento fácil e c) a perda de prudência nos negócios;
  • No início da década de 1980 o grupo Matarazzo, verdadeiro ícone da indústria nascente brasileira, fechou as portas depois de anos de agonia. A principal motivação do fim dos negócios residiu na má gestão conduzida por herdeiros;
  • No ano de 2001 a Enron, grande corporação estadunidense que fora criada em 1985 para a exploração de gás e a produção de energia, teve de reconhecer grandes perdas de patrimônio que na verdade haviam sido “escondidas” por contabilidade criativa, ou melhor, verdadeiras fraudes. A empresa tinha valor atribuído de mercado no ano de 2000 equivalente a 68 bilhões de dólares, mas ela quebrou sendo seus principais executivos condenados à prisão e a companhia responsável pela auditoria externa – Arthur Andersen – desapareceu do mapa! Ah…e as pessoas perderam o emprego;
  • Em 2006 a empresa Alemã Siemens iniciou intensa investigação interna para entender más práticas dos gestores envolvendo, inclusive situações de propinas em diversos países. Entre outras perdas a empresa pagou mais de 1 bilhão de dólares aos órgãos alemães e norte-americanos;
  • No segundo semestre de 2007 começaram a aparecer no mercado norte-americano os primeiros indícios concretos da especulação provocada pelos empréstimos hipotecários de alto risco e alto retorno (??), a que se deu o nome de “crise do subprime”. Um dos pontos agudos da crise foi registrado na falência do quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos da América – Lehman Brothers. Antes disso o valor da ação do Banco caiu de US$ 82.00 para US$4.00 em semanas/meses:
  • A principal e maior empresa brasileira –a Petrobrás – viu o valor da ação despencar de R$37,00 em Dezembro de 2009 para R$17,08 em Dezembro de 2013 e nesses dias o valor cotado em pregão da Bolsa gira ao redor de R$ 8,00!!! A empresa tem enfrentado, além das dificuldades decorrentes de ambiente do setor bem complicado; a excessiva interferência do acionista principal o Governo Federal do Brasil na estratégia de preços e investimentos e mais recentemente a queda do valor da ação reflete o impacto que vem causando a operação da Polícia Federal, denominada de Lava Jato, ainda em fase de investigações aprofundadas. Aqui a má conduta da gestão foi provocada por pessoas inábeis e de má fé que foram colocadas em postos chaves da empresa pelo principal controlador;
  • Não faz muito tempo que o CEO da Toshiba Corp, Hisao Tanaka, renunciou ao comando da empresa depois que foram divulgadas notícias sobre maquiagem nos resultados financeiros do negócio. Ele foi acompanhado no ato por outros líderes de alto escalão do conglomerado Japonês, que tem mais de 140 anos de constituição e registra vendas aproximadas de 50 bilhões de dólares ao ano. O tamanho da fraude contábil aproximou-se de 2 bilhões de dólares norte americanos;
  • Em Setembro desse ano o mercado mundial, e mais especificamente o segmento automotivo, foi abalado pela revelação de que a agência Norte Americana EPA, responsável por cuidar das questões ligadas a emissões e meio ambiente, evidenciou mascaramento dos níveis de emissões dos veículos da marca Volkswagen, na América do Norte, e que possuem motorização diesel. Já nos primeiros dias as ações da companhia perderam mais de 30% de seu valor no mercado acionário e a empresa anunciou ter feito reservas contábeis de 7,3 bilhões de dólares, para enfrentar penalizações de seu ato em território norte americano;

O que podemos aprender dessas histórias? Será que aprendemos algo?

Acho que sim! Há como disse no início do texto, enorme esforço mundo afora na sociedade, em órgãos reguladores e por parte de governos para mitigar a ocorrência de situações que comprometam o futuro dos negócios em geral, possibilitando a perenidade dos mesmos e assegurando o ideal comportamento das economias dos países.

Esses fatos, por outro lado, indicam claramente que os empreendimentos estão expostos a situações complicadas e o componente humano tem presença importante no que vem acontecendo.

Não há muita dúvida, portanto que os seres humanos com suas falhas comportamentais e vieses podem ocasionar terríveis malefícios ao sucesso de um negócio. Desta forma é preciso dotar as empresas de robustos processos que previnam a ocorrência de fraudes ou má conduta e também que a gestão seja compartilhada atribuindo papéis claros e responsabilidade aos diversos atores da organização e como esses interagem com as figuras das partes interessadas: acionistas, empregados, Governo, clientes, fornecedores e sociedade em geral.

Além disso, órgãos reguladores devem exercer o papel de rigidamente monitorar, e punir se necessário, práticas que prejudicam o sucesso e a perenidade das empresas e organizações de modo geral.

Finalmente é razoável compreender que a boa prática da governança corporativa continuará merecendo mais atenção exigindo iniciativas que aperfeiçoem o modo pelo qual as empresas são geridas e como seus gestores e funcionários se comportam.

Lições aprendidas, mas nem tanto!

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