A aguda crise econômica brasileira, próxima de completar três anos, mostra claramente que boa parte das empresas dos setores industriais, de extração mineral, do agronegócio e de serviços precisa expandir os negócios em outras regiões mitigando a dependência absoluta que muitas delas têm do mercado interno. Por outro lado é saudável ao país e aos brasileiros garantir acesso a bens e serviços importados de qualidade e custo competitivo para suprir a demanda na falta de alternativa interna, ou até para substituir esta, criando riqueza e bem estar.
Estes fatores impõe maior volume de transações e negócios do Brasil com outros países e os empreendedores interessados neste caminho devem enfrentar os desafios inerentes à complexidade de comercializar com estrangeiros, colocando definitivamente no planejamento estratégico as ambições de atuar no comércio exterior.
O site do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostra números da balança comercial consolidados de 2016 evidenciando aquilo que boa parte das pessoas estudiosas ou curiosas por comércio exterior já sabe:
- Do total exportado – US$185,2 bilhões – os bens manufaturados representaram tão somente 40% do total;
- 47%% das exportações brasileiras foi destinado a cinco países, na ordem decrescente: China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Alemanha;
- As importações em 2016 somaram US$137,6 bilhões e os bens manufaturados significaram 85,5% do total;
- Os principais parceiros comerciais do lado da importação foram pela ordem de importância, Estados Unidos, Alemanha, Argentina e Coréia do Sul sendo que os cinco países somados chegaram a 45% do total comprado por nosso país.
A Organização Mundial do Comércio publicou o “Trade Profiles 2016” no segundo semestre do ano passado, com dados do ano de 2015, indicando que no Brasil tanto as exportações como as importações, em média, significaram 1% do total comercializado globalmente. Por outro lado no México, cujo PIB equivale a 65% do nosso país as exportações alcançam 2,3% do total comercializado no mundo. E mais…a Coréia do Sul cujo PIB também é inferior ao brasileiro, teve em 2015 3,2% de “share” no total exportado no mundo e 2,6% nas importações.
Estes dados indicam claramente que transacionar com outros países não é nosso forte mesmo, certo? Logo há no Brasil enorme espaço a ser ocupado no sentido de aumentar a comercialização de bens e serviços com o mundo exterior seja no tocante à geografia quanto à cesta de produtos a serem comercializados pelos diversos segmentos da economia. Não dá para depender só do agronegócio na exportação e também a importação poderia ser mais diversificada, certo?
Bem…feita esta leitura voltemos ao tema deste texto: “Vencendo desafios no comércio exterior”. Embora saibamos que desde o início da era moderna – século XVI – se observa intenso crescimento das trocas de mercadorias e serviços entre nações, motivo pelo qual já em 1600 tanto a Holanda como a Inglaterra criaram duas das que se tornaram as mais longevas e poderosas empresas privadas do mundo: as Companhias das Índias Orientais, as atividades de exportar e importar não são coisas para ser feitas de qualquer jeito, sobretudo se a ideia for de fato desenvolver negócios para o médio e longo prazo.
Sim! É preciso reconhecer que as transações comerciais com o mundo exterior são complexas e sujeitas a muitas regras, leis e práticas e se as mesmas não forem seguidas a companhia poderá enfrentar problemas sérios não só abalando sua reputação como gerando penalizações pecuniárias importantes, além de frustração nas parcerias com perdas de negócios para ambos os lados – vendedor e comprador. Isto vale para as firmas ao redor do mundo como um todo.
No Brasil, mais do que em muitas regiões do mundo, no entanto, participar do comércio exterior exige cuidado redobrado e muito esforço para se ganhar dinheiro seja na venda (exportação) bem como para incorrer no menor custo para comprar (importação).
A primeira dificuldade em nosso país é inerente às economias em desenvolvimento e a fragilidade de suas moedas relativamente ao dólar norte americano ou ao euro. É muito difícil estimar as taxas de câmbio futuras, além do que vez por outra fatores econômicos externos e até políticos internos causam volatilidade no valor da moeda nacional. A empresa precisa tomar suas precauções aqui.
Outro grande desafio das transações comerciais com o mundo exterior se refere à logística e transporte, pois em nosso país a infraestrutura de portos, aeroportos e rodovias alonga o que chamamos de “lead time” ou o tempo de demora em embarcar mercadorias desde a saída das fábricas e/ou depósitos, ou então, no caminho inverso no transporte interno da importação do ponto de coleta até o destino final.
O arcabouço tributário e legal exigido para exportação e importação aqui em nosso país chega a ser sufocante e gera, na maior parte das vezes, custo demasiado para as companhias e ainda as coloca em risco de sofrer autuações por erro na “papelada” com classificação errada dos itens, divergências nas documentações. Tudo isto sem falar que as mercadorias podem ficar por bom tempo à espera da solução das pendências.
Para ter sucesso no jogo da “exportação” e também da “importação” a empresa nacional precisa fazer a lição de casa e à parte da estratégia comercial/financeira é importante cuidar de:
- Estabelecer normas e processos internos robustos que mitiguem o erro nas transações comerciais;
- Contar com pessoas especializadas, atualizadas e focadas no fiel seguimento dos processos internos;
- Contratar parceiros – despachantes; empresas de transporte e logística – confiáveis e que prestem serviço superior;
- Exercer vigilância sobre eventuais mudanças na legislação de comercio exterior e também tributária tomando atitudes internas para rápida adaptação;
Não se intimide com os desafios aqui citados. É possível vence-los e fazer bons negócios!!