É inegável que no mundo dos negócios, e particularmente nas empresas privadas, a prioridade reside na remuneração dos investidores e para tanto o gestor principal é todo o tempo cobrado para entregar o lucro de modo consistente.
A lucratividade gera recursos não só para pagamento de dividendos e, sobretudo para reinvestimento na própria atividade; aquisições de outras empresas; manutenção de um quadro qualificado de pessoas; investimento em pesquisa e inovação e por aí vai. Deste modo o lucro é vital ajudando na perenidade da firma.
Nas últimas décadas outra questão relevante tem ocupado cada vez mais espaço na agenda tanto nos estudos acadêmicos como também na prática da gestão: consistência de desempenho! Nesse sentido a visão de longo prazo e o cuidado dos executivos com aspectos ligados à conduta ética, respeito às leis e regulações, gestão de risco, meio ambiente e comunidade deve permear a cultura das empresas com a criação de políticas formais claras, processos robustos, engajamento das pessoas e monitoramento do progresso nesses pontos.
De fato mais e mais podemos notar, nos “sites” das empresas e naquelas de capital aberto quando da divulgação dos resultados financeiros, o discurso “nós cuidamos da sustentabilidade do empreendimento”. Então o discurso lá está.
Além do discurso é importante que no dia a dia da gestão e nas atividades ligadas à discussão da estratégia de longo prazo o executivo principal e seus liderados diretos, sobretudo, “vistam” a camisa da sustentabilidade e façam do tema o verdadeiro propósito da firma. Com isso um grande passo terá sido dado no sentido de perenizar o negócio.
No final do ano de 2005 a BM&F Bovespa criou o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial). A iniciativa, sem dúvida, foi um marco e provocou interesse de muitas das empresas listadas na Bolsa de Valores até porque ter o tal “selinho” ISE seria um cartão de visitas atraente ao mercado.
O ISE em Dezembro de 2005 era composto de vinte e oito empresas. O “pico” na lista de empresas enquadradas no índice ocorreu no ano de 2014 com quarenta companhias. Para o ano de 2016 o ISE está composto por trinta e cinco empresas e dentre elas destaco: Bradesco, Itau Unibanco, Laboratórios Fleury, AES Tiete, Natura, Lojas Renner, Fibria, CPFL, Weg, Braskem e Santander.
É importante notar, no entanto, que ”vender” a imagem de empresa preocupada com sustentabilidade enquanto no seu interior a liderança pratica outro discurso, ou se os processos não são robustos; as pessoas não estão engajadas ou ainda as práticas não estão alinhadas com o propósito a situação pode ficar complicada mais à frente. Porque? Pelo simples fato de que mais dia, menos dia algo poderá ser revelado por desvios de conduta e/ou comportamento e outras fragilidades internas causando prejuízos enormes de reputação e até econômico-financeiros. O discurso não se sustenta. Simples assim!
A Vale, uma das maiores mineradoras do Mundo, participou do ISE no período de 2011 a 2015 e ficou fora nesse ano de 2016 devido a tragédia de Mariana. Lá a Samarco, companhia na qual a Vale tem 50% do capital, foi causadora de desastre socioambiental terrível após rompimento de barragem como todos nós sabemos.
Triste essa realidade, não é?
Não tenho elementos para fazer julgamento, e nem devo, sobre as causas e “culpas” do desastre em Minas Gerais, porém por curiosidade fui verificar o discurso e também o propósito da Samarco quanto à questão da sustentabilidade. E veja o que encontrei em seu relatório financeiro e de atividades encerradas em dezembro de 2014, o qual está disponível no site da empresa:
“Nós, da Samarco, acreditamos que a combinação de um comportamento empresarial responsável e ético e uma execução cautelosa do planejamento e da condução dos esforços em prol da sustentabilidade do negócio representa a chave para a concretização da nossa Visão 2022. Por isso, para dobrarmos o valor da Samarco e a tornarmos reconhecida por empregados, clientes e sociedade como a melhor do setor, atuamos focados em Excelência, Conformidade e Crescimento – pilares que traduzem nossa estratégia e os aprendizados construídos nos 37 anos de nossa atuação.”
No penúltimo parágrafo do mesmo depoimento ao mercado foi dito:
“Também buscamos incluir, no planejamento estratégico, um olhar de longo prazo que considere a perspectiva socioambiental do negócio. Por meio do Modelo de Sustentabilidade, propomos objetivos estratégicos e indicadores que abarcam a geração de renda, o desenvolvimento do território, as mudanças climáticas e o engajamento dos diversos stakeholders, inclusive com contribuições para a visão de longo prazo da Empresa.”
Concluindo: a questão, bem complexa, da sustentabilidade deve obrigatoriamente fazer parte da agenda dos gestores das empresas e principalmente ser praticada com enorme zelo por todos na organização, pois contribui enormemente para a perenidade do empreendimento.