A divulgação de dados sobre o comportamento da economia brasileira e notadamente da produção nacional e, também das vendas no mercado interno continua favorecendo a manutenção de um quadro de desalento e desesperança. Isso não é bom, mas parece não ter outro jeito, pois a mistura de ambiente externo desfavorável, governo federal inoperante e crise de caixa do Estado fizeram com que não só os mercados diminuíssem de tamanho com a queda do consumo e da renda das famílias como encontra uma classe empresarial atônita e pessimista.
Resultado: já tem gente falando que o PIB encolhe mais de 4% nesse ano e que 2016, muito provavelmente a produção do país deve cair até 2%! Muito complicado, sem dúvida.
Cuidar das questões de caixa e da liquidez dos negócios continuará ditando as regras do jogo empresarial ao longo do ano que vem. Nessa questão o modelo de estrutura de capital da empresa e sua dependência, ou não, de recursos de terceiros faz muita diferença.
Seguramente, em menor ou maior grau, os empreendimentos comerciais, de serviços, industriais e do agronegócio estão mais debilitados nesse final de ano comparativamente a dezembro de 2013 e mais ainda se compararmos com dezembro de 2014. Eventualmente uma ou outra empresa com negócios expressivos na exportação, e que não sejam do ramo de commodities, deve fechar o ano com situação de caixa e rentabilidade mais confortável, mas isso depende também do quanto possa esse negócio estar exposto a empréstimos em moeda estrangeira, por exemplo.
Segundo dados divulgados pela empresa Serasa Experian no período de janeiro a novembro de 2015 houve elevação do número de recuperação judicial requerida por empresas de todos os portes, comparativamente ao mesmo período de 2014, como segue:
- Micro e pequenas empresas – foram 589 casos requeridos de recuperação judicial (no ano anterior – 427 casos);
- Empresas de médio porte – 327 requerimentos de recuperação judicial (em Janeiro/Novembro de 2014 – 225 casos);
- Grandes empresas – 221 registros em 2015 contra 125 pedidos de recuperação judicial em 2014.
A situação também é mais complicada em 2015 quando analisamos o número de falências decretadas: foram até novembro, inclusive: 545 falências de micro e pequenas empresas; 178 de médias empresas e mais 52 falências decretadas de empresas de grande porte.
Com certeza as empresas que compuseram esses números têm em comum a relação capital próprio versus capital de terceiros desequilibrada onerando os resultados, já definhados pelo baixo volume de negócios, e impossibilitando que honrassem o pagamento da dívida a esses terceiros. O desequilíbrio ocorre quando o capital próprio da empresa mais os lucros acumulados são a menor porção de recursos que sustentam a atividade empresarial.
Mas afinal quem são os terceiros? E porque ter excessiva dependência desses pode prejudicar o resultado do negócio?
Os terceiros que um empreendimento se vale para financiar as atividades são: fornecedores, governo, instituições financeiras e investidores em papéis como debêntures, por exemplo. Todos eles, em menor ou maior grau, cobram pelo financiamento na forma de juros, ou não, e é essa uma das razões pelas quais os gestores precisam ser vigilantes na estruturação de um modelo que preserve a saúde financeira também nos tempos difíceis.
Isso dito cabe aos executivos, ou aos donos do negócio, determinar níveis de liquidez adequados alinhando os prazos de recebimento de clientes com os que adota para pagar os fornecedores. Outra medida é manter os estoques balanceados e baixos.
Finalmente é válido analisar com muito rigor as necessidades de investimento em máquinas, equipamentos, edifícios, ferramentas, assegurando que o valor investido gere retorno em prazo relativamente curto (de um a dois anos?).
Então cuidar da geração de caixa e do nível de liquidez e, o modo como financiamos a operação do negócio, impactam diretamente a maior ou menor dependência de recursos de terceiros. Por outro lado, claro está que o negócio precisa gerar lucro, ou seja, que as receitas superem os gastos. Simples assim!
No Brasil, onde particularmente temos as taxas de juros bancários entre mais altas do globo, buscar recurso junto a Bancos exige enorme cuidado e essa fonte de recursos de terceiros de longe é a mais onerosa.
A Anefac – Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade – há anos presta um bom serviço mapeando o custo do dinheiro tanto para pessoa física como para as empresas. Segundo a Instituição os dados em Outubro de 2015 mostraram as taxas mais elevadas dos últimos anos e a décima terceira elevação mensal consecutiva.
Para pessoa jurídica a Anefac, reportou que no mês de Outubro, na média, a taxa de juros mensal, foi de 4,16% ao mês o que equivale a 64% ao ano. Quando detalhamos por natureza de empréstimo/financiamento: capital de giro custou, em média, 2,48% ao mês; desconto de duplicatas 2,91% e conta garantida foi de 7,1% ao mês! É preciso evitar a tomada de recursos no mercado financeiro, pois não há atividade empresarial que gere retorno sobre investimento nessa magnitude.
Resumindo: é natural que um negócio se valha de recursos de terceiros para financiar as operações, porém quanto mais equilibrada estiver a relação capital próprio e capital de terceiros e menor dependência de Bancos tiver uma empresa mais “blindada” essa estará para enfrentar os tempos difíceis de hoje, e os projetados para o ano que vem.