O segmento de bens de capital no Brasil que compreende entre outros os setores de máquinas e equipamentos; informática e automação; transportes como caminhões, ônibus, aeronaves, locomotivas e embarcações, além de máquinas ferramenta tem consistentemente diminuído de tamanho. Embora boa parte dessa queda de atividade tenha relação com a grave crise econômica instalada no país desde a segunda metade de 2014, o fato é que desde sempre tivemos dificuldade para construir uma indústria de bens de capital sólida e competitiva.
A contribuir com esse quadro de definhamento da produção nacional de bens de capital estão entre outras causas: a falta de política bem estruturada de apoio aos empreendedores; dificuldade de acesso a financiamentos de longo prazo a custo “decente”; pouco investimento em inovação e pesquisa e a falta de interesse ou motivação do empresário nacional em buscar tecnologia fora através de acordos de licença, por exemplo. De todo modo esses pontos serão retomados mais à frente.
O governo militar do General Ernesto Geisel foi um bom exemplo na tentativa de provocar, através do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), maior foco e incentivo à indústria de bens de capital. De fato, em 1974 diante da crise estabelecida a partir da elevação do preço do petróleo e a extrema dependência da importação à época, uma das saídas para mitigar as perdas cambiais decorrentes da desfavorável balança comercial foi dar início ao um processo intenso de substituição de importações.
Um dos objetivos do II PND era diminuir de 52% para 40% a participação de bens de capital no total importado pelo Brasil num período de 5 (cinco) anos à frente. Mais do que nunca o Banco Nacional de Desenvolvimento, hoje BNDES, através de recursos do Finame – Fundo de Financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos, cuja criação se deu em 1965, foi generoso na concessão de recursos financeiros à taxa de juros aceitáveis aos tomadores. Deu algum resultado, sem dúvida.
Ainda hoje o BNDES é ator importante no apoio à indústria de bens de capital, porém a situação foi mudada substancialmente desde o início dos anos 1990 quando de modo geral a indústria nacional foi colocada à prova para competir com produtos importados a taxas de imposto de importação mais baixas. Foi ali que se deu, de modo consistente, a abertura do mercado brasileiro a produtos do estrangeiro.
Mais recentemente – a partir do ano 2000 – novo ciclo de diminuição de espaço da indústria de bens de capital – deu início com a volatilidade da moeda nacional, a atuação mais aguerrida de outras fontes para aquisição de máquinas e equipamentos como, por exemplo, a China e o avanço tecnológico espetacular motivado pela indústria da informática e softwares. O mundo mudou, e continua a mudar sem que a indústria nacional, com raras exceções, consiga acompanhar o ritmo.
Segundo a Abimaq – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – o faturamento total do setor caiu 29,3% no primeiro semestre desse ano de 2016 comparativamente ao mesmo período do ano passado. A diminuição na atividade trás também danosas consequências no nível de emprego, o qual indicou 307.000 pessoas empregadas na indústria significando demissão de quase 10% da força de trabalho. Complicado, muito complicado!
Aqui a principal razão está na falta de disposição do empresário local para novos investimentos, além da capacidade ociosa da indústria em geral por diminuição na demanda de bens e serviços – leia-se queda do PIB e do consumo das famílias. Por outro lado, é bom destacar que a queda das importações de máquinas e equipamentos também no primeiro semestre de 2016 foi de 18.8%, ou seja, a produção nacional caiu mais, muito mais que o volume importado.
Resumindo até aqui: a diminuição do tamanho da indústria nacional de bens de capital tem relação com o desempenho da economia e, sobretudo, com a falta de competitividade decorrente dos custos internos, o famoso custo Brasil, e atraso na atualização tecnológica no ritmo do que acontece em outras regiões do mundo.
Na recente publicação da revista Exame – Melhores e Maiores empresas do Brasil 2016 – a WEG empresa multinacional brasileira de Santa Catarina, destoa das demais sendo eleita a melhor empresa do ano indicando alguns caminhos que fazem a diferença em busca do sucesso do empreendimento nesse ambiente tão desfavorável da indústria de bens de capital no Brasil:
- Investimento em inovação – a Weg reporta investir ao redor de 3% do faturamento e na última década registrou 100 patentes;
- Expansão fora do território nacional – a Weg diz que 57% do faturamento acontece fora do Brasil e isso se deu a partir ampliação do parque industrial, inclusive na China, ou através de aquisição de outros negócios. Essa estratégia exigiu a empresa buscar excelência nas operações e promoveu maior proximidade com as novidades em tecnologia;
- Ampliação do portfolio de produtos para novas indústrias – a Weg já tem soluções/produtos para os segmentos de energia eólica e solar.
A indústria de bens de capital é de vital importância para o país em função do desafio que representa em inovação; pesquisa; tecnologia, além de criar oportunidade de empregos para pessoas qualificadas acima da média e consequente geração de renda superior.
O sucesso do setor no Brasil é possível a partir de: a) política consistente de financiamento de recursos; b) investimento em capacitação de pessoas; c) esforço redobrado em pesquisa tecnológica; d) construção de parcerias no exterior através de licenças e acordos de tecnologia; e) desenvolvimento de estratégias para oferecer produtos que promovam maior automação e eficiência energética. É preciso também não perder de vista a tal de “internet das coisas” cujas novidades trazem ameaças, mas muitas oportunidades, sem dúvida.