Na década de 1950, segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), a participação da indústria de transformação representava algo como 20% da economia nacional.
Ainda protegida pelas elevadas taxas do imposto de importação; limitações legais para a importação de bens e máquinas e taxa de câmbio administrada, além do enorme esforço de nacionalização, a indústria atingiu sua maior importância no ano de 1985 alcançando 35,9% do total produzido no país. De lá até os dias de hoje o que se vivenciou foi queda consistente da participação da indústria na economia brasileira. De fato a indústria de transformação representou meros 10.9% da economia no ano de 2014 de acordo com dados oficiais.
Resumindo a indústria local deixou de participar do crescimento registrado do PIB, que no período de 1985 a 2014 evoluiu 125%. O aumento do mercado interno foi “abocanhado” pela indústria com planta fora do Brasil. Por outro lado a expansão das exportações de bens manufaturados tem sido tímida de 3% ao ano, nos últimos dez anos, fechando o ano de 2014 com 138,4 bilhões de dólares norte americano versus 153,2 bilhões exportados no ano de 2011. A indústria local atrofiou!
Já divulguei neste blog diversos textos para tratar da competitividade industrial e acredito que é possível mudar parte da situação difícil da indústria melhorando a gestão, investindo na qualificação das pessoas, investindo em maquinário mais moderno, observando e colocando em vigor boas práticas de manufatura das empresas localizadas fora do país, e tomando iniciativas diárias visando ganhos de produtividade. Afinal muitas empresas, principalmente as de médio e pequeno porte nacionais, ainda carecem de administração mais profissionalizada e qualificada.
Essas são ideias que podem e devem fazer parte da “lição de casa” dos gestores. Por outro lado, não faltam palpite e estudos mais profundos na discussão sobre o destino do setor industrial brasileiro, e muitos identificam séria desindustrialização em curso que poderia ser revertida caso tivéssemos planos de ajuste bem estruturados, e em execução. Concordo que isso é para ontem!
Uma conjunção de fatores tem contribuído para a diminuição da importância da indústria nacional na geração de emprego, da renda e para promover o crescimento da economia. É possível citar, sem receio de errar os que seguem:
- Falta qualidade na gestão das empresas;
- Volatilidade da taxa cambial;
- A mão de obra local é relativamente mais cara que em outros lugares do mundo;
- A carga tributária é excessiva e afeta de modo cruel as exportações;
- A infraestrutura logística não ajuda e onera o custo de produção;
- Carência de linhas de crédito e juros altos para investimentos em capital fixo;
- Poucas iniciativas de inovação em produto e “design”;
- Burocracia gerada pelo Estado;
- Falta investimento em processos de automação;
- A escala – tamanho – do mercado interno inibe maiores ganhos em produtividade.
A revista Conjuntura Econômica, publicada pela Fundação Getúlio Vargas, em sua edição de Novembro de 2015 expõe bom material num texto que chamou de “Uma indústria retalhada”. Vale a pena uma leitura atenta.
O artigo está baseado em estudos realizados por pesquisadores do IBRE e indicam situação muito crítica em segmentos como: bens de capital; metalurgia; calçados; têxteis e vestuário. Mas também outros setores demonstram definhamento da indústria local: produtos químicos e farmacêuticos; artigos de borracha; siderúrgico e plástico.
Há lição de casa a ser feita internamente nas empresas, como já disse, porém é preciso reconhecer que não é uma situação de fácil “conserto” e para tanto serão necessárias décadas a fim de revigorarmos a indústria.
Faz-se importante amplo debate das partes interessadas da sociedade: governos, empresários e sindicatos. É preciso ter visão de longo prazo e não é permitido cair na tentação de soluções fáceis e espasmódicas. Isso já foi feito e não deu certo!!