Já havia decidido preparar um novo texto sobre “preços” quando dois fatos ocorreram relativamente ao tema. No trânsito de São Paulo deparei com um veículo de entregas cuja empresa expunha a seguinte mensagem: “preço se discute, qualidade não”. Fiquei curioso e acabei acessando o site para entender melhor o porquê da proposta e observei lá uma série de argumentos e propostas de valor. Entendi que na verdade não se trata de uma postura de “rasgo o preço” ou “estamos abertos à negociação”. A firma chama a atenção para a qualidade dos produtos que oferece; à respeitabilidade conseguida junto a seus Clientes; à parceira construída com seus fornecedores dando uma vantagem de custo e também qualidade na entrega. Está explicado o posicionamento do negócio.
O outro fato foi numa conversa com amigos de uma Consultoria que estavam debatendo como e se deveriam corrigir os preços dos serviços cujo contrato formal com o Cliente estabelecia clausula de reajuste anual. A dúvida surgiu devido ao atual momento dos negócios e perspectivas para a economia brasileira indicando queda nas atividades de modo geral exigindo dos gestores ações para diminuição de gastos. Um deles argumentou: “se aumentarmos os volumes com a venda de serviços a mais clientes poderíamos evitar o aumento anual ou mitiga-lo, pois de outra forma estaríamos melhor absorvendo os custos fixos agora mais inflacionados”. Veja como as questões de inflação também colocam desafios na agenda dos gestores quanto à política de preços.
No fim do dia independente do tipo de negócio ou indústria as empresas e seus administradores têm pela frente questões importantes relacionadas à precificação e impactos no resultado financeiro bem como nos planos de investimento para crescimento futuro. A importância do tema está ligada também ao comportamento da concorrência e mudanças comportamentais de Clientes e consumidores. Tudo isso exige atenção redobrada da política comercial e posicionamento estratégico de preços.
Sabemos que em alguns negócios nos quais uma empresa tem posição dominante de tecnologia ou conhecimento protegida por patentes, por exemplo, a indústria farmacêutica, é possível definir um nível de preços confortável com os custos de desenvolvimento do produto; produção e distribuição ao mercado por um período longo de tempo, mas essa situação é relativamente restrita e também se aplicando àquelas empresas que detêm monopólio.
As dificuldades das companhias em colher consistentemente lucros e aumentar os volumes de negócio ganhando market share versus a concorrência inspirou dois acadêmicos – um deles do Insead – a produzir extensa pesquisa e publicar um livro que se tornou um dos mais vendidos no segmento de gestão empresarial: “A estratégia do Oceano Azul”. Os autores defendem a ideia de as empresas criarem novos mercados eliminando a presença de concorrentes ou simplesmente os fazendo irrelevantes. Leia, se ainda não o fez.
Os autores do livro na proposta de desenho da estratégia para colocar a empresa em “águas azuis” com pouca ou nenhuma concorrência predatória indicam quatro fases importantes:
- Entender se a ideia do negócio gera “utilidade” excepcional para o comprador;
- Perguntar se o preço é facilmente acessível para a massa de potenciais compradores;
- Avaliar a meta de custo possível para a empresa lucrar ao preço estratégico;
- Estudar eventuais barreiras na adoção do modelo de negócio.
Se em qualquer dessas fases a resposta for “não” os autores recomendam que a proposta seja repensada, pois de outro modo esta não atende aos princípios da estratégia do Oceano Azul e provavelmente não trará os resultados esperados.
Especificamente na questão do preço o texto sugere a identificação do “corredor do preço da massa” citando três situações típicas: a) precificação no nível superior quando há alto grau de proteção legal e de recursos e o produto ou serviço é difícil de imitar; b) precificação de nível médio quando há algum grau de proteção legal e de recursos e c) baixo grau de proteção legal e de recursos e o produto ou serviço é de fácil imitação.
Seja qual for o momento de sua empresa no mercado: 1) com linha de produto/serviço consolidada e reconhecida; 2) de liderança relativamente à concorrência ou 3) mesmo planejando a entrada em segmento hoje pouco disputado, não deixe de colocar como prioridade em sua agenda o posicionamento e a política de preços.