A ascensão da China como fonte de fornecimento para itens manufaturados com preços competitivos, desde o final da década de 1990, causou forte migração dos parques industriais dos países desenvolvidos para aquele país, e mesmo países em desenvolvimento como o Brasil tomaram o mesmo caminho. A China se transformou no centro de manufatura mundial devido principalmente ao baixo custo da mão de obra local.
No caso brasileiro tivemos ainda outros fatores motivadores da mudança que foram a consistente valorização da moeda, notadamente a partir do ano de 2005 e, os custos crescentes da folha de salário estimulados pelos reajustes acima da inflação interna. Por aqui o que se presenciou foi o definhamento da indústria local e a destruição de muitas vagas de emprego agravando a qualidade de vida nos grandes centros urbanos e mais precisamente nas regiões Sul e Sudeste. Além disso, a balança comercial ficou desequilibrada com o crescimento constante das importações de itens manufaturados.
Nos dias de hoje observamos, no Brasil, um movimento contrário com muitas empresas buscando fornecedores locais em substituição da fonte importada e isso se deve ao novo patamar da taxa cambial. Sim! Não é necessário fazer muita conta para entender que a China não é mais tão competitiva como fora no passado, pois há três anos atrás tínhamos uma taxa de câmbio ao redor de R$2,00 para 1 dólar e hoje a cotação da moeda brasileira é de R$3,60 / US$1.00.
Independente do nível do câmbio, embora esse seja importante, os gestores tem o grande desafio de adotar metodologias consistentes e inteligentes quando da definição do fornecedor e/ou parceiro comercial, seja ele brasileiro ou de outro país. Essa prática é fundamental para assegurar resultados financeiros favoráveis mantendo a competitividade da empresa. Por outro lado é bom frisar que são conhecidos casos de empresas com dificuldade de meramente calcular o custo do produto importado colocado em sua fábrica e/ou depósito, levando em conta os impostos, taxas, fretes e demais despesas associadas ao processo de importação.
Quando falo de metodologia “inteligente” estou me referindo a diversos fatores, alguns dos quais invisíveis numa primeira leitura, que devem compor o cálculo do custo total de importar versus o custo de comprar no mercado interno.
Sem um método eficaz que detecte os tais “custos escondidos” ou “hidden costs”, como dito na língua Inglesa, o gestor pode incorrer em decidir pela fonte de fornecimento inapropriada. Simples assim!!!
E quais são esses “custos escondidos”? Enumero a seguir alguns, mas sem distinguir por ordem de importância material, ok?
- Gastos com análise preventiva da qualidade;
- Despesas na comunicação com a fonte no exterior;
- Custo da gestão logística de embarque e desembaraço de materiais;
- Níveis de estoque acima do desejável ou do razoável, devido a compras em trânsito e tempo de reposição dos itens;
- Estoques mais altos podem gerar perdas com obsolescência e até materiais para descarte por desgaste/defeito;
- Despesas com frete aéreo devido mudanças na programação de compras e demanda do mercado/cliente;
- Dificuldade de pronto atendimento causada por atraso prazo na liberação de itens importados junto a portos e/ou aeroportos brasileiros;
- Impacto no caixa devido ao descasamento entre pagamento da importação e recebimento final desde o cliente.
Além desses fatores o método de análise de fonte de fornecimento precisa considerar a facilidade no trato com fornecedores locais, como visitas às instalações para a solução de problemas de qualidade e na negociação de mudanças nos programas de compra obtendo maior velocidade no encaminhamento desses temas.
Resumindo, as empresas devem adotar método robusto na mensuração do custo real do material adquirido de terceiros para a correta decisão sobre comprar localmente ou importar de outro lugar, pois como vimos há fatores de difícil identificação que podem afetar o resultado final da análise. Recomendo também a reavaliação periódica dos custos levando em conta a dinâmica dos mercados e indicadores econômicos, como por exemplo, a taxa de câmbio.