O jornal Valor Econômico publicou matéria sobre a balança comercial da indústria de transformação nacional no último dia 24 de Fevereiro. O cenário, que sabemos é preocupante, mostrou-se ainda mais agudo com os dados divulgados pelo IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial – referentes ao ano de 2014, afinal por sete anos consecutivos o saldo de exportações e importações foi negativo atingindo no ano passado a marca dramática de U$ 63.5 bilhões de dólares!!!
Numa comparação com o resultado de dez anos atrás o qual mostrou superávit de U$ 24 bilhões de dólares de 19 setores industriais pouco mais da metade (8) registraram déficit. Já em 2014 os setores deficitários foram 14! A indústria perde competitividade em função do câmbio valorizado dos últimos anos, mas também ocorreu impacto negativo provocado pela tecnologia embarcada e maior concorrência da produção industrial asiática de baixo custo. Tudo muito complicado.
Não há como negar que muitos avanços no chão de fábrica têm sido observados nas últimas décadas em nosso país. De fato muitas empresas adotaram práticas mais modernas de manufatura; colocaram em funcionamento Sistemas de Qualidade e investiram na capacitação da mão de obra. Todo esse avanço, no entanto foi insuficiente para manter a competitividade da indústria quando consideramos não só o comportamento da taxa de câmbio como fatores de elevação dos custos como: a) a passividade do Governo no controle da inflação doméstica e a contínua memória inflacionária dos agentes econômicos; b) a agressividade dos sindicatos exigindo aumentos reais de salário e c) carga tributária crescente. Enfim o tal “custo Brasil”.
O ambiente desfavorável para a indústria manufatureira como citado acima vai continuar exigindo dos gestores muito suor; criatividade e o exercício de “pensar fora da caixa” gerando ganhos de produtividade; a diminuição dos gastos e a eliminação de desperdícios que possam trazer redução significativa do custo de produção. É preciso fazer mais com menos e não é possível deixar para depois!!
O que mais dá para fazer?
O gestor do negócio precisa, junto com seu time de líderes, provocar de modo organizado discussões internas que gerem um plano ambicioso no sentido de alavancar a competitividade de seu empreendimento.
Uma questão estratégica importante é: nossa planta industrial está localizada numa área que traz vantagens econômicas relevantes? Aqui cabem reflexões como: é de fácil acesso? Fica próxima do mercado e da cadeia de fornecedores? Tem disponibilidade de mão de obra de qualidade e custo mais baixo? É possível mitigar encargos fiscais? Esse tipo de iniciativa vem sendo tomada com relativo sucesso na China, por exemplo, onde muitas empresas têm deslocado suas atividades manufatureiras para regiões mais longínquas e ainda assim mais competitivas. É recomendável avaliar essa questão em profundidade.
Olhando mais para o curto e médio prazo gostaria de listar alguns pontos que considero aplicáveis a uma empresa do segmento metalúrgico ou metal mecânico:
- Quando falamos em excelência no chão de fábrica a abordagem deve ser a mais ampla possível começando pelo próprio projeto de Engenharia do produto. Qual é a dificuldade desse ser produzido? Quais são os possíveis “modos de falha” e como serão evitados? Há oportunidade de oferecer um produto com tolerâncias e especificações menos apertadas sem comprometer o desenho; a funcionalidade ou ainda a qualidade?
- Quais processos de fabricação e equipamentos serão utilizados para assegurar nível mínimo de perda na produção? Quais ferramentas serão adotadas para evitar o refugo? Os operários estão treinados e orientados para evitar o erro? Os desenhos e folhas de processo estão atualizados? O maquinário tem sido submetido à manutenção preventiva periódica?
- A empresa dispõe de ferramentas avançadas para a programação das necessidades de compra e produção e que permitem planejar um nível mínimo de estoques?
- Como fazemos a gestão do estoque? Dá para trabalhar mais apertado?
- Com qual frequência são encaminhadas discussões de grupo (Kaizen) buscando oportunidades para racionalizar a produção?
- Estão os fornecedores alinhados e comprometidos com o bom atendimento e qualidade? Medimos o desempenho? Discutimos e formalizamos ações na busca da melhoria contínua?
- As pessoas do chão de fábrica são treinadas regularmente e remuneradas pelo resultado e contribuição a ideias que melhorem a produtividade?
E por aí vai…Poderia continuar listando uma série de outras questões que nos remeteria às boas práticas de Manufatura Enxuta, sem dúvida! Você já ouviu falar disso, não é?
No fim do dia não se esqueça de que é sempre possível planejar e executar melhor o que hoje fazemos bem. Seja “neurótico” buscando a excelência na produção a fim de manter seu negócio competitivo e lucrativo.