A estrutura organizacional forte ajuda, mas e o corpo de dirigentes?

No final do ano de 2014 a Petrobrás, então com a imagem já respingada pelas investigações da operação da Polícia Federal denominada de “Lava-Jato”, buscou no mercado um executivo experiente para assumir a Diretoria recém-criada de “Governança, Risco e Conformidade”.

O ato, encaminhado pela Presidente da empresa à época Graça Foster, teve uma simbologia importante de transmitir recado ao mercado de que as coisas poderiam mudar para melhor, no médio prazo, quanto à adoção de boas práticas de governança corporativa no dia a dia da companhia. Em seguida houve a troca de Presidência numa decisão política com nome escolhido sem discussão prévia pelo Conselho de Administração. Foi um passo atrás na transparência e o mercado ficou desconfiado, com razão, de se de fato as coisas iriam mudar na Petrobrás.

Na semana passada a empresa divulgou ao mercado e anunciou nos jornais um novo desenho da estrutura organizacional a que chamou de “Novo modelo de Governança e Gestão”. A mudança, segundo anunciado, deve gerar diminuição anual de R$ 1,8 bilhões nas despesas com corte de uma Diretoria, de um total de sete, além de diminuição em 30% do quadro de pessoas com cargos gerenciais de áreas não operacionais – isso deve significar demissão de quase 1.600 executivos.

Sem dúvida essas medidas são benvindas levando em conta que o resultado financeiro do negócio é ruim e as expectativas no segmento de Óleo & Gás, no mundo inteiro são negativas. Não se trata, portanto tão somente de boa Governança, mas principalmente da qualidade das decisões de negócio e da necessidade de tornar a empresa mais enxuta.

Recentemente lendo a quarta edição do livro “Managing Business Ethics”, escrito por dois estudiosos norte americanos, me deparei com uma seção que trata da conduta ética dos Diretores e/ou Gerentes e do modo como esses exercem influência sobre as pessoas que estão a estes subordinadas. Merece reflexão e posso também, de certa forma, conectar o tema com a nova estrutura definida na Petrobrás.

A pergunta que precisa ser respondida é: Ok, a estrutura da organização é forte e deve promover a boa Governança, mas e o corpo de dirigentes? Até que ponto os líderes do negócio influenciam o comportamento ético na empresa e de seus empregados?

Estudos citados no livro revelam que no mundo corporativo, e também no das demais instituições, muita gente segue as ordens superiores sem muito questionamento e certas de que as ordens a serem executadas já “passaram” por um crivo ético. Isso representa de fato um risco!!!

A legitimidade do cargo do líder acaba, na maior parte das vezes, impondo como verdadeira e boa a prática de determinado ato executado pelo liderado a mando de seu superior. Isso já aconteceu em vários episódios dramáticos da História, como em 1968 quando militares dos Estados Unidos massacraram centenas de civis inocentes em My Lai no Vietnam.

Uma situação do mundo empresarial citada no livro foi a obediência de trabalhadores de uma fábrica nos Estados Unidos da América que trocaram as placas de identificação de origem de produto “Made in Japan” para “Made in US”, para burlar regras e procedimentos impostos por lei.

Não há dúvida que a maior parte de funcionários de empresas, mundo afora, não questiona a ética de certos atos. Você duvida? Como pôde a Volkswagen, em escândalo recentemente descoberto, entregar veículos ao mercado com software que mascarava os níveis de emissões de poluentes? Com certeza não foi o CEO da empresa quem instalou o aplicativo, não é?

Essas evidências trazem um recado que desejo estampar nesse texto: mais importante do que o modelo da organização e o organograma é como a empresa escolhe os dirigentes e/ou gerentes!!! Essas sim devem estar à prova de desvios de conduta e transpirarem comportamento ético superior!

No caso da Petrobrás a nova organização anunciada, para funcionar bem, exige que os melhores ocupem as posições de comando e demonstrem todos os dias em suas decisões que levam a sério a boa governança corporativa.

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