Não nos iludamos! Não haverá travessia fácil da grave crise econômica no Brasil para um ambiente de “ordem e progresso”, afinal a situação crítica da economia não será resolvida tão somente com discurso e boa vontade. O “conserto” vai tomar muito tempo e exigirá medidas amargas.
Uma vez que devemos imaginar muitas mudanças à caminho, e que iniciativas serão tomadas para colocar as coisas nos trilhos no médio prazo, nos negócios as empresas continuarão extremamente conservadoras em seus planos internos de expansão e investimentos. Por outro lado com a nova equipe econômica e algum apoio político no congresso o ânimo dos empresários e gestores deve melhorar elevando o grau de confiança na recuperação da economia brasileira.
O que vivenciamos, desde o início desse ano de 2016 é a contínua deterioração de praticamente todos os principais indicadores e dados divulgados, a saber:
- A inflação interna medida pelo IPCA, calculado pelo IBGE, em doze meses acumulados no mês de Abril evoluiu de 6,28% em 2014 para 8.17% em 2015 e “bateu” em 9,28% em 2016;
- A taxa de câmbio – paridade Real x Dolar Norte Americano – passou de R$2,23 em Abril/2014 para R$2,99 no mesmo mês do ano passado, e em Abril/2016 estava em R$3,45 por US$1.00;
- A produção industrial, divulgada pelo IBGE, mostrou queda de 9,7% em doze meses (Janeiro/Março) de 2016 comparativamente a 2015;
- O volume de negócios do setor de serviços, também em doze meses acumulados (Janeiro/Março) caiu 4,4% nesse ano versus o ano passado;
- A safra agrícola de cereais, cujo volume mais importante é composta de: arroz; soja e milho deve ser em 2016 de 205,4 milhões de toneladas significando menos 1,9% comparativamente ao que foi colhido em 2015;
- A recessão continuou ceifando emprepgos! No trimestre Janeiro/Março 2016 versus igual período de 2015, segundo o IBGE, 1,4 milhões de brasileiros deixaram os postos de trabalho. Com isso a taxa de desocupação chegou aos dois dígitos – 10,9% – versus 7,9% registrados em Janeiro/Março de 2015;
- O resultado oficial das contas públicas do Governo Central foi, até Março de 2016, um déficit de 18 bilhões de Reais contra saldo positivo de R$4 bilhões no primeiro trimestre de 2015. As receitas tributárias cresceram 4,7%, portanto abaixo do nível de inflação como resultado da fraca atividade econômica enquanto as despesas subiram quase 16%, segundo dados no site do Banco Central do Brasil.
A notícia boa, isolada, nesse quadro de grave crise econômica fica por conta do desempenho da balança comercial, pois no período de Janeiro a Março de 2016 foi acumulado um superávit de US$7,7 bilhões contra déficit de US$5,8 bilhões registrados no mesmo período de 2015. Aqui temos a combinação de dois fatores: a) desvalorização do Real estimulando as exportações e, mais importante, a queda abrupta das importações como decorrência do encarecimento das compras desde o exterior como também a demanda mais baixa devido à recessão econômica. De todo modo esse resultado nos leva a estimar que não haverá, no curto prazo, motivação importante para desvalorização mais acelerada da moeda local.
Em resumo: o quadro dramático da economia brasileira exigirá medidas duras, do Governo de plantão, e sacrifício da sociedade incluindo eventual elevação dos impostos com o retorno da CPMF, lamentavelmente.
E o que farão os homens de negócios diante disso tudo?
- É possível, em primeiro lugar, a ocorrência de algum entusiasmo no meio empresarial com a definição de pessoas competentes cuidando da política econômica, sabendo que esses profissionais não devem ter o perfil de “bonzinhos” devido a necessidade de adoção de remédios amargos. A partir da definição das novas regras do jogo, com certeza, a lição de casa será feita para ajustar os planos de negócio;
- Em segundo lugar é preciso dar continuidade na gestão interna das empresas com rigor no controle de gastos; buscar oportunidades no mercado externo; analisar cuidadosamente os custos de materiais importados e buscando, onde aplicável fonte local de suprimento;
- As iniciativas de retomada de investimento ainda serão tímidas até porque há capacidade ociosa na indústria, por exemplo; os consumidores continuam preocupados com o risco de desemprego e queda da renda o que inibe “gastar”; e muitas empresas estão debilitadas com a queda consistente dos negócios nos últimos dois anos.
Concluindo: como não saída fácil para a crise econômica serão necessários tempo; estudos e paciência para os negócios deslancharem consistentemente