Mercado de trabalho: O que nos reserva o futuro?

A grave crise instalada na economia brasileira desde o segundo trimestre de 2014 tem acarretado consistente redução no número de empregos criados, aliás, não se trata de criação, mas de verdadeira destruição de postos de trabalho.

O IBGE divulgou na semana passada que a taxa de desocupação atingiu a média de 10,2% no trimestre Dezembro/2015 – Fevereiro/2016, portanto já chegamos aos dois dígitos! São hoje, segundo o Instituto, mais de dez milhões de pessoas sem emprego no território brasileiro. Um recorde!! De sobra a renda média real do trabalhador, ainda empregado, caiu 3,9%.

Pode ter certeza, a situação deve ainda se agravar mais ao longo de 2016 e levaremos anos para voltarmos aos níveis de 6%/7% registrados no início da década de 2010. Isso não é “bola de cristal” ou palpite, mas sim a constatação de que em outras economias mundo afora a recuperação do emprego tem se mostrado muito difícil devido não só ao quadro econômico que é exatamente a situação do momento no Brasil. De fato mudanças importantes estão acontecendo no mundo do trabalho impactando o nível de emprego e remuneração e é desse fenômeno que pretendo falar nesse texto.

Antes faço questão de mostrar alguns números e tendências recentes observados em alguns países que selecionei:

  • Os Estados Unidos da América apresentaram taxa de desemprego de 5% no primeiro trimestre desse ano significando retorno ao patamar antes da crise de 2008, logo foram oito anos de esforço na diminuição da massa de pessoas desocupadas;
  • Na França a taxa de desemprego em 2008 girava ao redor de 7%/8% subiu consistentemente até 10% no ano de 2010 e ainda hoje permanece nesse nível, portanto não houve qualquer recuperação num espaço de seis anos;
  • A Espanha, país Europeu que sempre enfrentou altas taxas de desocupação de mão de obra, tinha 10% de desempregados em 2008 saltando para 20% no ano de 2010 e hoje mantém os mesmos 20%;
  • O México, acompanhando os Estados Unidos, enfrentou aumento na taxa de desemprego até 6% entre os anos de 2008 e 2010 e agora registra nível histórico normal de 4% de desempregados; e
  • Finalmente a Alemanha! Essa sim deu a volta por cima conseguindo reduzir o desemprego ao nível mínimo em décadas (4,3%), depois de enfrentar 8% entre os anos e 2009 e 2010.

É possível deduzir com esses dados que o retorno a níveis de empregabilidade historicamente razoáveis, após crises econômicas agudas, é um caminho difícil e lento e exige melhor entendimento das tendências importantes do mercado de trabalho e como as organizações reagem e se ajustam em quadros de dificuldade.

A primeira evidência então para a diminuição na oferta de empregos reside no empenho das empresas em desencadear ações estruturadas para fazerem mais com menos, ou seja, obtendo ganhos expressivos de produtividade. Na crise os modelos de negócio são repensados e redesenhados e processos são implantados permitindo sinergias tanto no chão de fábrica como no chão dos escritórios. Há espaço também para padronização de tarefas e práticas nas funções existentes. Com essas iniciativas as empresas acabam por eliminar definitivamente postos de trabalho. Além disso, com aquisições de uma empresa por outra, mais frequentes em cenários de dificuldade econômica, aparecem oportunidades para adequação do quadro de pessoas – para  baixo! São fatos!!

De outro lado é preciso observar a transformação provocada, em velocidade antes nunca vista, por novas tecnologias e mudanças nas especialidades de emprego e funções. O mundo está mudando radicalmente com a criação e oferta de trabalho para pessoas mais qualificadas e preparadas e que saibam lidar com o avanço da tecnologia. Na verdade em economias mais avançadas já se observa “lacunas”, ou “gaps” como se fala na língua Inglesa, na formação da mão de obra.

Outro fator que afeta a empregabilidade e cria ausência de pessoas procuradas pelas empresas, segundo estudos, é a “obsolescência” daqueles trabalhadores que ficaram fora do mercado por período superior a três anos. Com o frenesi provocado pelas novas tecnologias as pessoas ficam desatualizadas, caso não continuem estudando e isso é comum.

Recentes projeções apontam que no Mundo, em geral, há falta de pessoas altamente qualificadas e que até o ano 2020 um total estimado de quarenta milhões de vagas estarão à procura desses profissionais. Vai faltar gente e este será o grande desafio imposto aos governantes, empresas do ramo da educação e também aos empresários empregadores. O investimento em educação formal precisará ser foco nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática e é para agora. Mesmo na China, onde 42% dos graduados são dessas áreas comparativamente à média mundial de 23%, haverá falta de quase vinte e três milhões de profissionais altamente qualificados, segundo a McKinsey Global Institute.

E o Brasil como se enquadra nesse ambiente? Não há dúvida de que nosso problema será maior, pois em nosso país tão somente 11% dos formandos em cursos de graduação são formados em ciências, tecnologia, engenharia ou até matemática. Teremos então o pior dos mundos: falta de talentos para atender as vagas formais e de outro, grande massa de desempregados devido a insuficiente qualificação.

Às empresas caberá o papel de complementar a formação de mão de obra e, principalmente, terão de cuidar da constante atualização de seus funcionários. Por outro lado àqueles que pretendam participar do mercado de trabalho fica a responsabilidade de obter conhecimento nivelado aos novos tempos de tecnologia mutante e em frequente atualização.

O mercado de trabalho já não é mais o mesmo e tende a ficar mais sofisticado dificultando a empregabilidade das pessoas, sobretudo daquelas que “pararam” no tempo, não acompanhando a dinâmica dos avanços tecnológicos.

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