Sim, tomar decisão sobre investimentos no mundo empresarial não é tarefa fácil. Seja para abrir uma filial, adquirir uma máquina para o chão de fábrica, expandir a linha de produtos com novos lançamentos, investir na expansão da rede de informática, aumentar a capacidade de armazenagem de produtos, direcionar recursos em Pesquisa e Desenvolvimento sem retorno imediato garantido exigem, em menor ou maior grau, enorme esforço para calcular de modo mais consistente possível a geração de caixa esperada pela iniciativa, a taxa de retorno prevista assim como o tempo em que o valor investido irá retornar aos cofres da organização (*).
Há, no entanto, outro grande desafio ao gestor ou gestora, ou ao proprietário da empresa, que é a questão do “desinvestimento”, ou a decisão de vender uma parte do negócio, ou o seu todo; desativar a fábrica, deixar de produzir e/ou comercializar um produto ou serviço.
Afinal, qual é o momento certo para sair do negócio?
Na vida real observamos que em boa parte das vezes existe o risco de se tomar decisão muito tardiamente se desfazendo do investimento por valor pífio, ou aquém do montante justo, ou ao contrário, de maneira impensada e prematura oferecer ao mercado algo que teria maior valor alguns meses à frente.
Para melhor calibrar a “data” de desinvestir, os gestores da firma devem se valer de instrumentos para medir os resultados presentes sem perder de vista os de médio e longo prazos, pois o que está gerando caixa e dando lucro hoje pode não acontecer no futuro, sobretudo levando em conta a dinâmica acelerada em que as mudanças tecnológicas tem acontecido, além de alterações no quadro concorrencial e outros fatores internos e externos ao negócio.
Já voltamos a esses pontos.
Em algumas organizações, o exercício frequente de avaliação da continuidade dos investimentos é parte do planejamento estratégico e até faz parte do “DNA” da empresa, de modo a ter presença garantida na agenda dos administradores. Cabe aqui citar Jack Welch – famoso CEO da General Electric – para quem tudo se resumia a três palavras: “conserte, venda ou feche”.
Mesmo ele, Sr. Welch, anos mais tarde foi criticado por ter feito da divisão GE Capital a principal máquina de crescimento do grupo econômico e geradora de fartos lucros que, no entanto, trouxe muito prejuízo na crise financeira de 2008, e mais recentemente depois de ter sido fatiada foi vendida em parte ao Wells Fargo, por exemplo. E o próprio CEO que sucedeu Welch, Jeffrey Immelt, foi “aposentado” no ano passado e, de certa forma, responsabilizado por ter demorado demais em se desfazer da parte da GE Capital que não tinha relação com os negócios da produção e venda de máquinas e equipamentos da firma.
Pergunta: por que desinvestir? Ao tentar responder temos a chance de passar em revista uma série de cenários que podem ajudar na definição do melhor momento para a tomada da decisão. Você concorda? Então vamos lá!
a) Muitos empreendimentos são marginalmente lucrativos e não resistem a turbulências econômicas, como por exemplo as que estamos vivenciando no Brasil desde 2014. Neste caso, é recomendável reavaliar, antecipadamente, o modelo de negócio, e caso haja entendimento de que não há conserto ou para mudar é necessário colocar mais dinheiro do qual a empresa não dispõe ou não tem interesse, é momento de se desfazer. Não te parece ser esta a situação dos negócios do Wallmart no Brasil?
b) A empresa enfrenta séria crise de caixa, com alta alavancagem (relação capital de terceiros/capital próprio muito elevada) e, por outro lado, as unidades de negócio mais lucrativas necessitam de investimento. Aqui é hora de vender parte dos ativos. Seria o caso da Petrobrás? Só neste ano, segundo notícias de jornal, a empresa pretende gerar US$21 bilhões ao se desfazer de ativos. Sem dúvida, a estatal tem procurado manter foco nas atividades que fazem parte de seu DNA. Não faz sentido, por exemplo, manter investimentos em transportadora de gás ou unidades de fertilizantes, entre outros.
c) A empresa de controle familiar, depois de muito crescer com atuação direta do empreendedor, começa a enfrentar questões de sucessão e o segmento de mercado tem se mostrado mais desafiador exigindo profissionalização e mais aporte de capital. Não há tempo a perder aqui! Teriam sido estas as motivações para o acordo de junção – LAN e TAM? Foi criada a Latam, que claramente é uma empresa mais forte agora com gestão direta dos executivos chilenos da LAN. Ou não?
d) A organização fez investimentos e entrou em novos empreendimentos prevendo boa geração de caixa e, ainda que altamente dependente de recursos captados com instituições financeiras, os números demonstravam taxa de retorno atrativa. Na vida real a receita projetada não aconteceu e o grupo econômico enfrenta dificuldades em outros negócios. Esta é a situação da Triunfo, que recentemente anunciou a devolução da concessão de mais de 1.100 km de estradas, e o mesmo grupo entrou com pedido de recuperação judicial (RJ) para a unidade de negócio – Aeroporto de Viracopos. Segundo depoimento de executivos a RJ tem boas chances de dar certo, a partir de renegociação de dívida com bancos.
e) A empresa, que tem participação expressiva no mercado em que atua, através de seus gestores percebe uma nova onda de inovação se aproximando no horizonte de três a cinco anos, e não tem apetite para investir em e/ou desenvolver novas tecnologias. Então é tomada a iniciativa de venda, por valor atraente, antes que a defasagem tecnológica se materialize. Decisão acertadíssima e, posso dizer, é caso real que observei bem de perto.
A tomada de decisão relativamente a desinvestimento não é fácil, até porque o desempenho atual ou do passado recente em uma empresa não serve como previsão do desempenho futuro. Os gestores e/ou donos da organização necessitam dar prioridade na avaliação futura do negócio para, hoje, tomar a decisão adequada sobre o melhor momento para dele sair.
Bons negócios!
Revisão de texto: Virgínia De Biase Vicari
(*) No apoio a este tipo de decisão – investimento – é possível empregar diversas ferramentas de análise, universalmente aceitas, as quais foram abordadas no texto deste blog intitulado “A decisão sobre investimentos de capital”.