Como o líder deve lidar com o ego

Alguns estudos indicam que à medida que o profissional avança na carreira, ocupando posições de maior importância – fruto dos resultados alcançados –, a autoconfiança cresce e, por vezes, isso acaba modificando seu comportamento e jeito de ser, fazendo com que o orgulho e a arrogância se instalem. Esse é um retrato típico do super ego, e isso não é bom, pode ter certeza!

A alta confiança adquirida, resultante da experiência acumulada e dos desafios enfrentados com sucesso, fortalece o líder no processo de decisão, ajudando-o em muito a obter sucesso no empreendimento. No entanto, é recomendável tomar cuidado para não cair na armadilha de achar que ele pode tudo e que a decisão tomada jamais resultará em fracasso.

Quando o executivo se deixa contaminar pelo sentimento de absoluto poder ou de super ego, existe grande chance de estar “cego” ou “surdo”, ou seja, impossibilitado de enxergar ou ouvir outras pessoas ao seu redor com capacidade para indicar ou sugerir caminhos alternativos e de menor risco ou maior assertividade no objetivo estabelecido.

Uma observação: desenvolver um super ego não tem qualquer relação com a capacidade de realização do líder. Ao contrário, a história narra exemplos de fracasso experimentados por líderes como Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, em suas iniciativas de domínio de território na Europa. Podemos com certeza atribuir a eles o perfil de detentores de super egos, concorda?

Roberto Townsend, que faleceu há quase vinte anos (1998), acumulou em sua carreira várias posições de destaque, entre elas a de CEO da Avis Rent a Car. Autor do livro Up the Organization, explica com clareza, que é preciso diferenciar a figura do líder da do gestor. Fazer a gestão de um negócio, na visão de Townsend, significa exercer o controle, e este é focado em três pontos principais: qualidade, tempo e dinheiro. Isso é importante, mas não é a principal trilha que um líder deve seguir. Na verdade, segundo ele, ser líder ou atuar como tal é, acima de tudo, lidar com as pessoas tornando-as suas seguidoras à medida que a elas é concedida a oportunidade de participação nas decisões, com poder para influenciar na decisão final, sendo essas pessoas partícipes ativas no processo decisório.

A grande dificuldade de um líder dotado de super ego é justamente ter a capacidade de ouvir e enxergar pontos trazidos por outras pessoas, sejam elas subordinadas ou até outros gestores de mesmo nível (peers). E como deve o líder “blindar” seu jeito de ser evitando que se sinta o dono da verdade, ou até o “deus” do negócio, evitando que a síndrome de super ego se estabeleça?

Para você que desempenha o papel de líder aqui vão algumas dicas:

  • Conheça-se melhor. Faça reflexões constantes sobre seu comportamento e se há algo a ser modificado na tratativa com outras pessoas e o envolvimento delas nos processos decisórios da organização;
  • Seja humilde! Segundo o dicionário Merrian-Webster, a palavra de origem latina significa estar livre de orgulho e/ou arrogância;
  • Desenvolva essa qualidade de humildade evitando achar que você, líder, é melhor do que outras pessoas;
  • Peça feedback das pessoas ao seu redor, buscando atentamente entender suas fraquezas;
  • Em algumas empresas há a avaliação 360º. É excelente ferramenta para mostrar seu jeito de ser aos olhos de subordinados, colegas de mesmo nível e de seu(s) superior(es). Use essas informações e construa um plano de ação nos pontos que precisem ser melhorados;
  • Demonstre claramente quando não estiver certo da decisão a ser tomada. Isso não o fará menor, ao contrário, é importante para as pessoas ao seu redor contribuírem com ideias fazendo-as valorizadas no seio da organização enquanto diminui o risco da decisão. Duas cabeças pensam melhor que uma, não é mesmo?
  • Saia do pedestal! Saia do isolamento de sua sala/escritório de gerente e/ou diretor! Vá para o campo, ficando mais próximo das pessoas;
  • Tente calçar o sapato do outro, entenda as dificuldades sem necessariamente deixar de tomar a decisão que deva de fato ser tomada;
  • Crie o hábito de avaliar frequentemente, e consistentemente, as decisões tomadas. Segundo Peter Drucker, no livro Managing Oneself, o líder deve, ao tomar uma decisão, escrever sobre o que espera que aconteça, e 9 ou 12 meses depois comparar os resultados. Esse exercício melhora o autoconhecimento ao mesmo tempo em que pode mostrar falhas ocorridas no processo de decisão. Afinal, nenhum líder é infalível, certo?

Observação final: o líder com super ego ou que não entende suas limitações é danoso para a organização e suas pessoas. Lide bem com seu ego!

 

Sucesso!!

P.S. Há ao menos duas recentes publicações que tratam do tema do ego no mundo corporativo e que recomendo para leitura:

  • Em 2016, Ryan Holiday (escritor estadunidense) lançou o livro Ego is the enemy
  • Neste ano, 2017, a dupla Brandon Black (CEO da Encore Capital por nove anos) e Shayne Hughes (Executivo principal na Learn & Leadership) escreveram Ego free leadership

 

Revisão de texto: Virgínia De Biase Vicari

Posts Recentes