O Resultado Financeiro; a Ética e, a Governança

No final do ano passado dediquei um texto na categoria “Liderança”, exaltando aqueles executivos que no comando dos negócios dedicam todo esforço, para o cumprimento das metas sem abrir mão do comportamento ético e transparente. Na verdade o texto foi inspirado em pesquisa publicada pela conceituada revista Harvard Business Review, a partir da observação de dados e sua consistência ao longo do tempo em que os executivos estiveram à frente da empresa. O título: “O líder e a entrega perene e consistente de resultados”. Faça uma leitura.

Nessa semana o mercado recebeu, com enorme surpresa, a notícia de que a Toshiba Corp – um conglomerado japonês gigante fundado em 1875; receita anual superior a 50 bilhões de dólares norte americanos e cerca de 200.000 empregados – teria reconhecido através de seu Presidente e CEO Hisao Tanaka, um “mascaramento” contábil em seus resultados inflando o lucro apresentado nos últimos cinco anos em mais de 1,2 bilhões de dólares. Para ter uma ideia o lucro anual da Toshiba, antes dos impostos, no ano fiscal de 2014 que se encerrou em Março desse ano foi de US$1,5 bilhão.

Não foi a primeira vez que fato dessa natureza aconteceu no Japão. Em 2011 a Olympus passou por situação semelhante, colocando em dúvida a qualidade da “governança” das empresas japonesas.

Tanto na Olympus, como agora na Toshiba, as diferenças contábeis não tiveram relação com atos de corrupção. Menos mal, mas ainda extremamente grave para a sociedade e particularmente àqueles que investem em ações de empresas de capital aberto. Há sem dúvida uma quebra de confiança.

Em sequência ao anúncio o Presidente da Toshiba renunciou ao cargo, no que foi acompanhado por outros executivos do alto escalão. Concluiu-se que seus subordinados falsearam os resultados devido à grande pressão exercida por um programa interno irrealista idealizado pelos altos executivos.

Fiquei curioso em saber mais sobre como a Toshiba estaria estruturada quanto à Governança Corporativa; seus relatórios divulgados ao mercado e ainda qual seria a empresa responsável pela Auditoria Externa. Para tanto fui ao site da Corporação e de fato lá estão expostos amplos relatórios anuais em bom Inglês e plasticamente irretocáveis. São mais de 60 páginas e os demonstrativos financeiros e contábeis estão aprovados pela Ernst & Young, conceituadíssima empresa de auditoria global.

A Toshiba reporta constante evolução em sua Governança e indica possuir no seu Conselho de Administração quatro Conselheiros independentes. No CA existe um Comitê de Auditoria, além de outros dois sendo um de Remuneração e outro de Nomeação. As reuniões do Conselho de Administração são mensais. A presidência do Conselho de Administração não é exercida pelo Presidente/CEO. O período de atuação dos Conselheiros é de um ano. A empresa dispõe ainda de uma área de Auditoria Interna. Todos esses são bons sinais de Governança, não é mesmo?

Essas evidências demonstram que apesar do discurso e de razoável desenho em suas organizações quanto à Governança Corporativa as empresas não estão imunes a deslizes comportamentais e éticos de seus dirigentes e que a pressão do mercado por resultados de curto prazo e a necessidade de o executivo sobreviver nessa “selva” podem de fato resultar em atos falhos.

A conclusão que podemos tirar de tudo isso é que a prática da boa Governança exige mais do que uma boa organização bem desenhada no papel. A independência de fato dos Conselheiros; uma atuação profunda e isenta do Comitê de Auditoria; a qualificação dos Conselheiros; a avaliação anual do desempenho do Conselho de Administração, são pontos muito importantes também.

Duas questões que sobram para reflexão são: 1) quando o mercado fará uma leitura e avaliação do desempenho das empresas e de seus executivos com visão de mais longo prazo? 2) qual é o equilíbrio ideal entre remuneração fixa e variável por resultado que estimule e ao mesmo tempo iniba excessiva “gana” dos executivos?

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