Com a primeira metade do ano já realizada, a possibilidade de acertarmos as projeções para o ano a terminar em dezembro é bem maior, não é mesmo?
Neste texto, farei a atualização dos últimos dados divulgados pelo Banco Central do Brasil sobre as projeções de alguns dos principais indicadores da economia brasileira que, por certo, são levados em consideração nas decisões de negócios, seja pelo empreendedor/sócio/dono da firma como por seus executivos. Haverá também, mais adiante, comparação desses números com aqueles divulgados na publicação de 14 de dezembro do ano passado neste blog, sob o título: “Vamos afinar expectativas e cenários para 2017?”.
Antes convido para uma reflexão sobre a importância e influência ou não do ambiente político na economia afetando tanto as famílias como os empreendimentos produtivos.
A situação nebulosa, para dizer o mínimo, sobre a governabilidade do país no âmbito federal, e a intensa propagação de notícias bombásticas pelos meios de comunicação quase que diariamente preocupa em demasiado toda a sociedade e, por certo, a classe empresarial. Em consequência, é notória a apatia que domina os brasileiros, e com quase três anos de severa recessão econômica, por fatores alheios à situação política, hoje parece existir consenso que nosso país só voltará a crescer de modo consistente após a realização de reformas básicas que incluem a previdência social, as normas e regras que norteiam as relações de trabalho, e ainda mudanças no sistema político. Você concorda?
Sim, a instabilidade política no Brasil, que começou lá atrás, em 2015, ainda hoje mantém baixos os níveis de confiança do empresariado, tirando o apetite para novos investimentos e, lógico, o alto nível de desemprego com impacto no consumo de bens e serviços gerou enorme ociosidade nas atividades industriais, onde se depreende que de fato não há necessidade, no médio prazo, de grandes esforços para ampliação do parque industrial a fim de atender a demanda. Enquanto isso, a geração de emprego fica à espera da recuperação efetiva, e relativamente duradoura, da economia em geral.
Na verdade, o Brasil está prisioneiro de suas próprias dificuldades internas decorrentes de contínuos déficits no orçamento público (federação, estados e municípios), políticas públicas desajustadas, carências na infraestrutura e gestores ruins a tomar conta de empresas públicas e do poder executivo. A difícil situação brasileira é, sim, causada por nós mesmos, afinal, o cenário externo para 2017 não é preocupante.
Recente pesquisa promovida junto a quadros dirigentes de empresas no mundo pela respeitada empresa de consultoria McKinsey revelou que no horizonte de doze meses houve certa mudança de humor com temores a riscos que possam afetar o crescimento global, principalmente os ligados às transições de lideranças políticas (exemplo de Trump nos Estados Unidos) e suas consequências nas relações comerciais, mas mesmo assim as projeções para o ano de 2017 não se modificaram. O Fundo Monetário Internacional, por exemplo, estima que o crescimento global deva alcançar 3,5% com destaque para recuperação nos Estados Unidos da América (PIB maior em 2,3% versus ano anterior), na Europa (+1,7%), no Japão (+1,2%), e enquanto isso a China espera crescer 6,6%, enquanto a Índia projeta aumento do PIB de 7,2% sobre o total da produção registrada em 2016.
No Brasil, como disse o ambiente nebuloso, o alto nível de desemprego, a apatia e a insegurança das famílias e, sobretudo dos empresários, além da falta de progresso nas discussões e aprovações das reformas o ano de 2017 terá desempenho fraco e até pior do que o vislumbrado em dezembro de 2016. Você também acha isso?
Segue leitura recente dos dados do Banco Central:
Indicadores para o ano 2017
Projeção 23/06 Projeção em 09/12/2016
- Inflação (IPCA) 3,48% 4,87%
- Taxa de Câmbio (R$/US$) 3,32 3,40
- Taxa Selic (Dezembro) 8,5% 10,25%
- Balança Comercial (US$Bi) 58,2 47,0
- Dívida Líquida Público/PIB 51,5% 51,0%
- PIB 0,39% 0,50%
- Crescimento Industrial 0,55% 0,88%
Temos aí boas coisas para celebrar, como a baixa taxa de inflação comparando com o padrão brasileiro usual, a taxa de câmbio “domesticada”, a taxa de juros referência do Banco Central – Selic – caindo mais rapidamente, e a balança comercial muito favorável. Bom!
Mas e o crescimento, visto que seria caminho natural para gerar postos de trabalho e renda?
Sem dúvida, nessas questões a evolução não deve ser a estimada ao final de 2016, pois as reformas ainda estão sendo discutidas e a avalanche de notícias ruins no âmbito político como que paralisam a sociedade, provocando insegurança e baixa estima da população, assim como não promovem a recuperação do ânimo dos empresários.
Aos gestores fica a responsabilidade de continuar navegando em meio à turbulência cuidando dos negócios com:
- Foco na geração de caixa;
- Esforço incessante na eliminação de desperdícios;
- Manutenção de quadro bem enxuto de pessoas;
- Adiamento de investimentos que não tragam retorno no curto prazo;
- Estudos e mudanças, onde necessário, para racionalizar de linhas de produtos;
- Identificação e eleição de novos canais de distribuição e venda;
- Reforço da área comercial usando de mais inteligência para melhor entender o mercado, os consumidores e também a concorrência;
- Desempenho superior em pré e pós-venda.
Revisão de texto: Virgínia De Biase Vicari