Fusões e Aquisições de Empresas – alguns sucessos; muitas decepções.

A revista Fortune publicou no início de Janeiro desse ano que as transações de fusões e aquisições de empresas (M&A em Inglês), atingiram o recorde de U$3,5 trilhões em 2014. Esse volume representou um crescimento de 43% sobre o ano anterior (2013) e inclui alguns casos anunciados, porém ainda aguardando formalização como a oferta de U$17 bilhões da General  Electric pelos negócios da Alstom – Divisão Energia. Só nos Estados Unidos da América as operações de M&A somaram U$1,5 Trilhões e na região Ásia/Pacífico houve o registro de um total aproximado de U$700 Bilhões.

Os segmentos de indústria que mais contribuíram para o volume recorde de 2014 na ordem foram: Tecnologia, Mídia e Telecom; Farmacêutica e Biotecnologia; Energia e Mineração; Produtos de Consumo.

É muito provável que no ano de 2015 o ritmo de fusões e aquisições de negócios ao redor do Mundo registre outro crescimento. Empresas se utilizam de M&A para alavancar o crescimento e expansão fora de seus territórios e em áreas emergentes; para adquirirem tecnologias recentemente desenvolvidas; e obviamente que façam sentido do ponto de vista financeiro gerando valor ao acionista com maior escala dos negócios e sinergias.

No Brasil, de acordo com publicação da Merrill DataSite as transações de fusões e aquisições alcançaram o equivalente a U$51,6 bilhões em 2014 num total de 306 operações. Os segmentos que se destacaram por aqui foram os de Energia e Telecomunicações. Eu acredito que outras oportunidades estarão abertas nesse ano de 2015 tanto em função do fortalecimento do Dolar Norte Americano como também por certa debilidade de algumas empresas nacionais incluindo aquelas envolvidas no caso Petrobrás. Com o baixo crescimento da economia abre-se oportunidade para aquisição e investimento de olho no mercado em prazo mais longo.

Nesse ambiente de M&A tudo parece róseo, não é? O fato é que em grande parte dessas transações o que se verifica ao final de quatro a cinco anos uma grande incidência de fracassos acarretando diminuição substancial do valor das empresas/negócios envolvidos e até mesmo a cisão delas. Há casos tão graves que o próprio CEO – primeiro homem do negócio – acaba perdendo o cargo em razão da desastrada aquisição ou ideia.

Em 2001 Carly Fiorina, então CEO da HP, travou intensa luta interna na empresa para valer sua ideia de aquisição da Compaq por U$25 bilhões assegurando que a iniciativa tornaria a nova empresa a número 1 em servidores e outras plataformas além de gerar anualmente U$2,5 Bilhões de economia de custos e despesas devido a sinergias identificadas. O fim da história nós já sabemos Carly Fiorina saiu da organização em 2005 e de lá para cá a HP teve de se reinventar a fim de se manter viva no mercado.

No setor automobilístico causou aplauso o anúncio em 1998 de compra da Chrysler pela empresa Alemã Daimler. Foram U$38 Bilhões investidos na operação a qual daria oportunidade de penetração da Daimler no mercado Norte Americano enquanto a Chrysler ganharia musculatura e recursos para promover crescimento mais acelerado de sua plataforma de produtos e expansão a outros mercados. Em 2007 a operação foi dissolvida sendo a razão do insucesso atribuída a conflitos culturais relevantes entre Norte Americanos e Alemães.

Durante a dura crise que as três grandes empresas automobilísticas dos Estados Unidos – GM; Ford e Chrysler – enfrentaram no ano 2009 surgiu  oportunidade provocada pela Italiana Fiat para aquilo que à época chamou-se de “aliança”. Nesse caso tudo está sendo bem encaminhado até aqui!!! No ano passado foi oficializada a empresa Fiat Chrysler (FCA) com a oferta de ações na Bolsa de Nova York. A iniciativa de construção de fábrica no Brasil onde se produzirá um veículo Chrysler – Jeep – demonstra que a associação entre as marcas está gerando valor.

No caso brasileiro a fusão Banco Itau e Unibanco anunciada em 2008 foi bem executada gerando resultados aos acionistas.

No fim do dia a história de fusões e aquisições demonstra que a decisão estratégica de promover o crescimento do negócio; de adquirir nova tecnologia; de expandir operações em outros mercados e/ou obter sinergia precisa passar por um crivo rigoroso com muito estudo e metodologia.

O método mais adotado nesses cenários de fusões e aquisições (M&A) a fim de se estabelecer o preço justo ou valor de uma empresa é o de fluxo de caixa descontado. Resumidamente essa metodologia trata de estimar o valor presente do fluxo de caixa gerado pela aquisição ou fusão num determinado período de tempo considerando específica taxa de retorno.

São inúmeras as variáveis a serem consideras no estudo de M&A, porém gostaria de listar alguns cuidados: a) como tratar a incerteza econômica; b) quais os riscos futuros de tecnologia do produto/serviço oferecido; c) que oportunidades de fato existem nos mercados emergentes; d) como fica o risco país?; e) identificar o grau de alavancagem operacional e financeira do segmento e da empresa alvo; f) como interpretar e eventualmente ajustar os números contábeis relatados pela empresa adquirida; g) no caso brasileiro – há riscos trabalhistas não identificados?, fiscais?, ambientais?; h) qual é o custo de capital médio ponderado levando em conta capital próprio e de terceiros?; i) sinergia – quais são os ganhos identificados? Recomendo realismo e até um pouco de pessimismo nessa questão.; j) e os intangíveis? A marca, por exemplo.

Fica claro, portanto que os gestores; o Conselho de Administração e os donos de negócios devem avaliar com cuidado, realismo e profundidade as oportunidades para fusão e aquisição de empresas.

Para aqueles que queiram estudar mais a fundo o tema de avaliação de empresas indico a leitura do livro de Aswath Damodaran da Editora Pearson.

 

 

 

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