É culpa do cenário externo?

O relatório Focus, disponibilizado pelo Banco Central do Brasil no dia 25 de Setembro, mostra as previsões dos principais indicadores econômicos para o ano de 2015, como segue: PIB queda de 2,8%; Produção Industrial queda de 6,65%; Inflação interna medida pelo IPCA de 9,5%; Taxa de câmbio no final do mês de Dezembro a R$3,95 por 1 US$ e Balança comercial com superávit de 11 bilhões de dólares norte americanos. De todos esses dados o único que traz uma situação mais confortável, relativamente ao ano passado, é o saldo da balança comercial, pois em 2014 o Brasil apresentou um déficit de quase 4 bilhões de dólares. Isso se dará por conta da desvalorização do câmbio, que inibiu as importações e também pela queda da atividade econômica nesse ano de 2015.

A dramática e delicada situação da economia brasileira, no ano em curso, é do conhecimento de todos e tem representatividade maior ainda devido ao fato de que no ano de 2014 o PIB já havia tido fraquíssimo desempenho com crescimento praticamente nulo (precisamente +0,1%). O nível do desemprego continua subindo e é muito provável que atinja dois dígitos (mais de 10%) até o final do mês de Dezembro.

O que aborrece a muitos no Brasil é o modo como o Governo Federal, na figura da Presidente Dilma Rousseff, trata a questão da deterioração da situação econômica do país atribuindo a culpa ao cenário externo. Nossos problemas ficaram mais agudos devido à contaminação do ambiente pelo que vem acontecendo mundo afora. É no mínimo um absurdo pensar dessa forma!

Para o governo nosso país sofre as consequências do que acontece lá fora, afinal países como China diminuíram a demanda por produtos provocando a queda generalizada dos preços das commodities. Esse é um fato verdadeiro, mas nem de longe tem ligação com nossos problemas.

Não é verdade também que outros países tem enfrentado situação tão difícil quanto à brasileira. Aqui seguem alguns dados comparativos para você tirar suas conclusões:

 

PIB Estimado           Desvalorização Cambial              Inflação

País             2015                       (Até Agosto)                            (12 meses em Agosto)

USA            +2,7%                                0                                                   0,2%

Japão         +0,8%                             1,3%                                              0,2%

Inglaterra  +2,4%                            1,3%                                               0%

China         +6,5%                            2,8%                                               2,0%

Índia          +7,0%                             4,4%                                              3,7%

Zona Euro  +1,5%                         -7,7%                                              -0,1%

Rússia        – 4,6%                             5,8%                                              15,8%

Brasil          -2,8%                           36,3%                                                9,5%

Conclusão: excetuando a Rússia nosso desempenho é o pior entre esses países e regiões selecionados. Como poderia nossa economia ser contaminada por ambiente externo desfavorável??

O fato é que não fizemos a lição de casa nos últimos dez anos e, pior, o primeiro mandato da Presidente Dilma, marcado por: 1) gastança superior à geração de receita e do crescimento do PIB; 2) ingênuo voluntarismo e 3) com frequentes interferências na economia desarranjaram de vez o ambiente interno dos negócios criando enorme desconfiança por parte dos empresários e da sociedade em geral.

Quando cito a “lição de casa” estou me referindo à grande chance que tivemos de corrigir diversas distorções e fragilidades de nosso modelo de país enquanto o Brasil “surfava” com as ondas a favor dos preços das commodities e da excepcional demanda Chinesa por produtos como a soja; a carne; o açúcar e o minério de ferro. Deixamos sim de fazer reformas importantes! Na verdade nós nos comportamos como a cigarra do conto da “Cigarra e a Formiga”, preferindo confortavelmente usufruir das facilidades do ambiente externo totalmente favorável.

Não foram enfrentadas questões como a modernização da infraestrutura brasileira; a necessidade de uma política industrial bem estruturada; a reforma tributária e o equilíbrio financeiro da Previdência Social. Por outro lado o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – interessante no papel, na prática revelou uma vez mais a incapacidade do Governo de fazer boa gestão dos recursos públicos com atrasos frequentes nas obras e gastos sempre superiores aos originalmente previstos.

Conclusão: deu no que deu! E não adianta colocarmos a culpa desse atraso somente no Governo, pois afinal onde estavam os agentes econômicos, notadamente os empresários e as classes representativas dos sindicatos dos trabalhadores, por exemplo, que não exigiram mudanças para valer nos ambientes macro e microeconômico do Brasil? Da classe política então nada poderia se esperar, sem dúvida!!

Agora só nos resta enfrentar anos muito difíceis pela frente com queda da renda e aumento do desemprego. Seria mais uma década perdida? Alguns especialistas já falam disso.

Daqui adiante é trabalhar com maior esforço; talento e coragem para adequar as empresas e seus negócios a uma realidade de baixo crescimento, nos anos que se seguem.

Mãos à obra!!

 

 

Posts Recentes