“Those who understand the magnitude and the permanence of the changes that we are now witnessing, reset their intuitions accordingly, and see the opportunities will shape this new world – and they will thrive”
Do livro “No Ordinary Disruption” – Autores: Richard Dobbs, James Manyika e Jonathan Woetzel
Este livro, publicado em 2015, foi dedicado a identificar as mudanças no ambiente dos negócios, na sociedade e na geopolítica e propor reflexão sobre a necessidade de adaptação a elas. Com certeza se a estratégia desenvolvida pelos gestores não estiver alinhada a tudo isso haverá pouca chance de sucesso e/ou até mesmo de sobrevivência.
O mundo passa por muitas transformações e destas as mais notórias em tempos atuais, residem no comportamento social. Temas como igualdade de gênero, de raça, e meio ambiente dominam a cena.
E as empresas como estão reagindo a tudo isso?
Algumas, pressionadas pelos movimentos, tem buscado demonstrar total alinhamento a estas questões tão desejadas e divulgando as iniciativas que têm tomado para acolhê-las.
Isso de fato se faz necessário. Não para ganhar mais dinheiro, mas para a própria sobrevivência e diferenciação em relação a concorrentes, por exemplo.
Entendemos que este caminho de adequação ao novo ambiente social é sem retorno. A única ressalva que podemos fazer é como algumas das firmas propagandeiam a narrativa de aderência às mudanças. Será que precisa? Bem… esta é uma outra questão.
Como já destacado em texto de 25/09/2018 deste blog: “Falando de negócio sustentável”, já tem um bom tempo que estudiosos tem enfatizado a necessidade de as companhias privilegiarem todas as partes interessadas – “stakeholders” – incluindo-as na estratégia de crescimento e rentabilidade. Tal olhar anda de mãos juntas com a busca da sustentação econômico-financeira dos negócios de curto e longo prazo, por certo.
Só para reforçar abaixo um quadro descritivo das partes que demandam atenção da firma e gestores:
Voltando ao texto de 2018… ele foi inspirado, em parte, no livro “Beyond the triple bottom line” o qual alertava, através de seus autores, para alguns pontos importantíssimos:
- A empresa sustentável é aquela que não somente minimiza o impacto negativo que causa no meio social e ambiental, mas que sim maximiza resultados positivos na área;
- A medição da sustentabilidade não deve ser centrada somente no interior da empresa, mas sim nos impactos que produz ao longo da cadeia de partes interessadas;
- A empresa sustentável não deve atingir zero desperdício por sua redução, mas sim por não o produzir antes de tudo;
- A filosofia de maximizar a rentabilidade por meio da redução de perdas e impactos negativos deve ser modificada para maximização do bem estar social e ambiental através de modelo de negócio viável desenhado para o longo prazo.
Trazendo essas questões para o ambiente das empresas no Brasil, e considerando aquelas mais visíveis à sociedade como as de capital aberto e listadas na B3, como entender à adequação delas a estes novos tempos e que valor geram no mercado e às partes interessadas?
A B3 criou há quinze anos (2005) o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial – o qual, bem estruturado, merece aplauso por colocar esses desafios às empresas que dele queiram participar.
A regra para a escolha: até 40 companhias podem participar do índice dentre as 200 com mais liquidez/transações de ações na Bolsa de Valores. Além disso as empresas se candidatam ao responder questionários das seguintes dimensões:
- Econômico-financeira
- Ambiental
- Governança Corporativa
- Social
- Mudança do Clima
- Natureza do Produto
Para o período de 04/01 a 31/12/2021 as ações das seguintes 39 empresas listadas participarão do ISE:
AES Tiete; B2W; Banco do Brasil; Bradesco; BRF; BTG; CCR; Cemig; Cielo; Copel; Cosan; CPFL; Duratex; Ecorodovias; EDP; Eletrobrás; Engie; Fleury; GPA; Itaú Unibanco; Itaúsa; Klabin; Light; Lojas Americanas; Lojas Renner; M. Dias Branco; Marfrig; Minerva; Movida; MRV; Natura; Neoenergia; Petrobrás; Petrobrás Distribuidora; Santander; Suzano; Telefônica; TIM e Weg.
No site da B3 está divulgado um “Raio X da Carteira”, como segue:
- 100% estabelecem medidas disciplinares em caso de violação de direitos relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. Em 2020 foi de 93%;
- 58% das companhias promove discussões com a alta liderança sobre a promoção da equidade quanto à licença parental entre homens e mulheres, incluindo o benefício para casais homoafetivos e famílias monoparentais. Em 2020 – 37%;
- Os conselhos de administração são compostos por: a) 77% têm mulheres como membros titulares e b) 5% de negros como membros titulares. Em 2020 foi de 3%;
- 72% promove práticas para encorajar representantes do grupo LBGTQIA+ a utilizarem os recursos disponibilizados pela companhia para sua integração aos demais funcionários. Em 2020 eram 48%;
- 67% das empresas estão listadas no Top da segmentação da B3 – Novo Mercado;
Quanto aos “objetivos de desenvolvimento sustentável”, que são 17 (dezessete) conforme SDG (Sustainable Development Goals) da ONU a B3 revela entre os mais priorizados:
- 83% prioriza inovação (ODS 9);
- 81% inclui combate às alterações climáticas (ODS 13). Em 2020 foram 70%;
- Na ODS 8 – emprego digno e crescimento econômico: 78%;
- ODS 16 – paz, justiça e instituições eficazes 67%. Em 2020 – 54%;
- Energia acessível e limpa – ODS 7 – 65%
Tudo indica que o ISE da B3 se constitui num bom “Norte” para as empresas se adequarem e avançarem, com método e perseverança, aos novos tempos, não é?
Claro está que é sempre tempo para os negócios (companhias) evoluírem e não entender e/ou não se adaptar às mudanças pode se revelar um desastre no médio prazo. Você concorda?
Revisão de texto: Virgínia De Biase Vicari