Um dos personagens mais marcantes do século XX no mundo corporativo estadunidense foi Andrew Grove, húngaro, que migrou para os Estados Unidos da América com vinte anos de idade em 1956 e sem o mínimo conhecimento da língua Inglesa.
Andy Grove chegou ao título de PhD em Engenharia Química pela Universidade da Califórnia – Berkeley – e fez vitoriosa carreira na Intel na qual foi CEO/Diretor Presidente do período de 1987 a 1998. Em 1997 foi escolhido “Man of the Year” e capa da revista Time. Entre outros escritos o Sr. Grove publicou o livro “Only the paranoid survive”.
Este líder de negócios, grande vencedor na vida, de fato marcou história como executivo cuja característica básica era perseguir todo o tempo a “reinvenção” da empresa e era, em suas próprias palavras, um paranoico por melhoria contínua em particular no mundo da produção. E sabidamente fabricar semicondutores não era coisa fácil.
Sim! É necessário, sempre, buscar oportunidades para melhorar o desempenho no chão de fábrica tornando a empresa mais competitiva e ganhando dinheiro. Esta mentalidade e “way of life”, ou modo de vida, na indústria nacional é para ontem. Você não acha?
O que quero dizer é que a sobrevivência da indústria brasileira passa pela aplicação das melhores práticas na gestão da área de manufatura e paranoica atenção nos detalhes de como aumentar a produtividade todo santo dia.
Produtividade: palavra mágica na indústria!!
Definição de produtividade? Fazer mais com menos recurso ou, fazer o mesmo com menos recurso.
Em abril de 2015, nesta seção do Blog e com o texto denominado “Competitividade e ganhando dinheiro no chão de fábrica”, escrevi algo sobre a Teoria das Restrições (TOC) disseminada pelo físico Israelita Eliyahu Goldratt, e que com bastante sucesso tem sido utilizada por empresas no exterior e também em algumas no Brasil. É uma referência para melhorar o desempenho da área de manufatura.
Os estudiosos da Teoria das Restrições alertam, no entanto, que só a produtividade não assegura a lucratividade. De fato, segundo eles, não se trata de isoladamente fabricar grandes lotes de material/produto em uma célula o que poderia gerar uma ótima taxa de peça por hora máquina ou hora homem, porém não contribuindo para o todo.
E que todo é este?
A lucratividade resulta da produtividade sim desde que:
• O ritmo da produção aumente;
• Os estoques ao longo do processo (matéria prima, produtos intermediários, produtos acabados) diminuam;
• As despesas operacionais, por unidade produzida, caiam.
Lembrando que em qualquer lugar do mundo não há futuro no negócio sem ter lucro, cabe aos gestores brasileiros daquelas empresas industriais atentos à excelência no ambiente fabril levar em conta mais do que a simples produtividade, aqui entendida como produção por homem-hora e/ou produção por hora-máquina. Fiquem de olho e persigam bons resultados em outras frentes como diminuição dos estoques e redução das despesas operacionais. Certo?
Outra referência nos estudos sobre excelência em manufatura é o Sr. Taiichi Ohno, executivo principal da Toyota e tido como o grande promotor do sucesso do TPS – Toyota Production System – cuja metodologia paranoicamente focada na busca de eliminação de desperdícios simplesmente foi “copiada” por muitas outras empresas ao redor do mundo para que pudessem sobreviver, manter o nível de competitividade e, lucrar. Simples assim!
O TPS, berço dos conceitos de manufatura enxuta, é na verdade muito mais do que prestar atenção aos desperdícios ou a aplicação das sete “mudas” à caça e eliminação daquelas perdas. Na verdade o TPS provoca o olhar sobre a padronização dos processos de fabricação; na organização e limpeza da célula de trabalho (5S); na “catequização” do operário para interromper a fabricação no caso de surgimento de não conformidades; e na disseminação da filosofia de trabalho: não aceito receber peça com defeito, não produzo peça defeituosa e não entrego peça defeituosa.
Resumo: além do ganho em produtividade; da busca incessante na diminuição das despesas; do esforço para diminuir estoques; na paranoia para eliminar desperdícios é preciso preparar os operadores do chão de fábrica ensinando-os a ter tolerância zero com o defeito.
No caso brasileiro, em meu julgamento, há outras questões relevantes para que a indústria nacional dê um salto de competitividade:
• Capacitação e treinamento frequentes dos operários;
• Automatização dos processos de fabricação;
• Participação efetiva do funcionário do chão de fábrica na recomendação de ideias para melhorias;
• Acompanhamento de desempenho através do emprego de métricas adequadas e com metas bem definidas;
• Disciplina nas questões ligadas à segurança do trabalho.
Os gestores precisam, de modo geral, “copiar” a inquietude tantas vezes demonstrada por Andy Grove acerca da paranoia de buscar fazer o melhor sempre e total atenção aos detalhes do negócio.
A indústria brasileira como sabemos perdeu boa parte da competitividade, e entre outras razões é possível enumerar:
a) Câmbio altamente desfavorável nas relações de troca;
b) Inflação interna acima do desejável por ajustes de salário “generosos”, notadamente no período do ano de 2007 até 2013;
c) Grande diminuição da demanda interna com a recessão econômica que se estabeleceu;
d) Taxa de juros muito superior à taxa média de retorno sobre investimentos em capital fixo.
Especificamente em relação à queda da atividade industrial resultante da contração da economia observe a tabela abaixo, extraída do site do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – resume o indicador Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física – Brasil a qual compara o primeiro semestre de cada ano com o do ano imediatamente anterior, em percentagem. Veja bem:
Setor da Indústria/ano 2017 2016 2015 2014
Bens de Capital +2,9% -1,53% -1,79% -8,3%
Bens Intermediários -0,1% -5,4% -1,85% -1,2%
Bens de consumo duráveis +10% -1,46% -1,06% -3,7%
Bens semiduráveis e não duráveis +0,5% -0,53% -1,57% +0,8%
O ambiente difícil, no entanto, é ótimo motivo para tomar atitudes quanto à produtividade e outras questões que impactam o negócio no chão de fábrica no Brasil, não é mesmo?
Que a filosofia de vida e trabalho de Andy Grove inspire a todos!
Bons negócios!!