Não é possível afirmar que a indústria nacional esteja sucateada, ou próximo disso, porém é notória a perda de competitividade em relação a outros países parceiros comerciais e o definhamento de sua participação no total da produção nacional (PIB). Na série histórica de cálculos do IBGE, no ano passado, a indústria de transformação representou 11,8% do PIB, o que indica queda de 6 pontos percentuais comparativamente ao ano de 2004, quando a participação fora de 17,8%.
E pensar que em 1985 a indústria atingiu seu auge de quase 23% do PIB…
Por motivações diversas, o setor industrial brasileiro exige reformas urgentes em seu interior e, sem dúvida, de iniciativas de Estado, visando sua recuperação, crescimento sustentável e avanço na criação de emprego e renda. Você concorda?
Então por que não discutir a importância da adoção de boas práticas com investimentos para atualização tecnológica do parque industrial e de gestão por meio das “novidades” do que se cunhou “Manufatura 4.0”?
Antes disso, porém, merece ser citado recente estudo divulgado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) chamado de “Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022”. Lá são quase 180 páginas de texto e gráficos e ao final, também em representação gráfica, são dispostos 62 indicadores e metas que, se alcançados, permitirão tornar a indústria brasileira competitiva, global e sustentável.
O documento lista onze fatores-chave que necessitam de atenção e exigem esforço do governo por meio de políticas públicas modernas, e também das empresas quanto ao modo de gerir os negócios, buscando sempre a inovação.
Os 11 fatores:
- Segurança Jurídica;
- Ambiente Macroeconômico;
- Eficiência do Estado, Governança e Desburocratização;
- Educação;
- Fontes de Financiamento;
- Recursos Naturais e Meio Ambiente;
- Tributação;
- Relações de Trabalho;
- Infraestrutura;
- Política Industrial, de Inovação e de Comércio Exterior;
- Produtividade e Inovação na Empresa.
O mapa estratégico desenhado pela CNI traz à discussão temas importantíssimos para modernização do país e da indústria, e coloca como desafio metas ambiciosas para mudar o estado de coisas, daqueles onze fatores, no decorrer do próximo mandato presidencial.
Desconheço como tal discussão – a do mapa estratégico – vai ser levada adiante pela CNI e outros atores importantes da indústria de transformação de modo materializar as metas estabelecidas, pois mudanças exigem tempo; esforço e muita negociação, como todos sabemos. Entretanto, um bom início seria verificar como e se essas carências do setor, e do ambiente de negócios no Brasil, fazem parte dos programas dos candidatos à Presidência de nosso país, e isto é para agora.
A “manufatura 4.0”, dentro do trabalho da CNI, é parte do fator 11 – produtividade e inovação na empresa -, portanto não é permitido ignorar que o tema não esteja na agenda porque ele está, definitivamente.
Neste mês de março de 2018 o governo federal anunciou no Fórum Econômico Mundial, que aconteceu em São Paulo, o lançamento de um programa de incentivo à modernização do parque fabril brasileiro, cujo discurso sustentou tratar-se de iniciativa para estimular a “indústria 4.0”. Bem… A gente sabe que entre discurso e prática há grande distância, mas não deixa de ser oportuna a tomada desta iniciativa, afinal é preciso um “empurrão” para a indústria nacional tomar passos firmes no sentido de tirar o atraso, já existente, com relação a adoção de inteligência artificial, “internet das coisas” e impressão 3D, só para citar o que mais se comenta por aí.
Os recursos destinados ao programa de modernização, conforme divulgação em jornais, alcançarão R$8,6 bilhões, dos quais caberá ao BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social) R$5 bilhões em crédito, com spread baixo de 0,9%. Outros R$2,5 bilhões serão ofertados pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), com taxas de juro de longo prazo (TJLP) mais 1,5% ao ano, o que é dinheiro barato, certo? Finalmente o Banco da Amazônia forneceria R$1,1 bilhão com taxas de juro variando entre 4% e 6,5% ao ano.
Além dessas linhas de crédito, o programa de modernização anunciado contempla outras iniciativas, como a capacitação de professores de educação profissional e tecnológica para formar estudantes com domínio dos assuntos relacionados à manufatura 4.0. E mais: há compromisso de promoção de workshops e seminários vinculados ao tema. É a manufatura 4.0 na agenda, não é?
A ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas) promoverá, no decorrer da FEIMEC (Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos) de 2018, que acontecerá de 24 a 27 de abril de 2018 no São Paulo Expo, em área específica, o evento “Manufatura Avançada – A Indústria 4.0 no Brasil”, em que empresas estarão demonstrando o uso de Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), Big Data, Comunicação Máquina a Máquina (M2M), Manufatura Aditiva (MA) e Identificação Facial. O projeto terá apoio do Senai SP e patrocínio do BNDES.
É a Manufatura 4.0 na agenda… Sem nos esquecermos de levar adiante soluções para as carências reais, hoje existentes, no âmbito da indústria brasileira, como bem aponta a CNI em seu “Mapa Estratégico da Indústria 2018 -2022”.
Revisão de texto: Virgínia De Biase Vicari