A indústria 4.0 está em curso, mas enquanto ela não se instala…

Nesta seção do blog, em 16 de agosto do ano passado, tratei da questão do avanço da tecnologia e a tal de “Internet das Coisas” na atividade industrial. O texto “A caminho de outra revolução industrial” revela as mudanças disruptivas que têm sido adotadas nas economias mais desenvolvidas com a oferta de soluções no chão de fábrica aumentando a automatização e a interligação em tempo real das diversas células de trabalho. É o avanço digital.

Sim…tendência irreversível. E tem muita gente ganhando dinheiro com este novo mercado que tem sido desbravado a partir da “estonteante” dinâmica do mundo da informática, algoritmos, e por aí vai. Empresas como Microsoft, Intel, Siemens e Bosch só para citar as de maior estrutura, assim como inúmeras “start ups” estão oferecendo ferramentas (software e hardware) mundo afora. São muitas também as publicações sobre a indústria 4.0 ou indústria avançada como se chama nos Estados Unidos da América. De sobra já temos dezenas de livros voltados a esta onda de “modernidade” prometendo revolucionar a produção de bens tornando as empresas produtoras muito mais competitivas, sem falar das revistas de negócio que tem trazido diversas matérias sobre o tema.

No texto de agosto/2016 foi dito que a indústria nacional precisa acelerar o passo trazendo para o interior das fábricas estas ferramentas da geração 4.0, mas enquanto ela não se instala entre nós, de modo consistente e sólido, existe ainda muita oportunidade para aprimorar o desempenho da manufatura no Brasil, sem dúvida!

Gostaria de abordar aqui duas questões muito críticas que em muitas empresas que conheço não são tratadas com a devida importância: a) manutenção fabril e b) mão de obra do chão de fábrica.

  • Manutenção fabril: As máquinas e equipamentos sofrem desgaste, certo? E também têm certa vida útil que pode ser prematuramente abreviada e/ou idealmente alongada, correto? É obrigação do gestor de fábrica cuidar bem do parque industrial tirando a melhor produtividade da capacidade instalada ao mesmo tempo em que produz itens nos padrões pré-determinados. Básico, você diria.

Para ter sucesso nestas ações, em primeiro lugar, é vital estudar todas as instruções de manuseio e manutenção indicadas pelo fabricante da máquina/equipamento. Estudar, e colocar em prática normas e procedimentos que o operador deva seguir religiosamente. Em segundo lugar há necessidade de conhecer os itens mais críticos e sujeitos à falha prematura, com o acompanhamento sistemático das variáveis que indicam o desempenho do equipamento na operação do dia a dia, além de promover inspeções sistemáticas para diagnóstico e detecção antecipada de medidas necessárias a fim de mitigar falhas incipientes. É o que se chama de “manutenção preditiva”.

Claro está que o processo adotado de manutenção deve estabelecer qual é o momento ideal da intervenção no equipamento que leve em conta aspectos econômicos e técnicos. Afinal máquina parada é desperdício.

Um bom programa de manutenção e seu fiel seguimento traz enormes benefícios à fábrica diminuindo consideravelmente as horas paradas para manutenção corretiva que causam perdas de produtividade e até comprometem o atendimento das entregas ao clientes/mercado.

O gasto com manutenção fabril quando preventiva, em minha opinião, não se trata de despesa como as pessoas de finanças podem eventualmente interpretar e sim é verdadeiro investimento que assegura resultados consistentes no ritmo da produção, mitiga a hora parada, e alonga a vida útil do equipamento.

É possível a utilização de equipamento em dia com o programa de manutenção por longo período de tempo, e mesmo que esteja tecnologicamente desatualizado, trazendo bons resultados evitando, por um tempo, investimentos que são tão caros ao caixa da empresa.

  • Mão de Obra: Do lado da mão de obra, enquanto a manufatura 4.0 não se instala, existe muita oportunidade que traz benefícios ao chão de fábrica. A começar por sua qualificação.

Ainda hoje, em muitas das empresas manufatureiras nacionais, não se tem o devido cuidado de colocar para “pilotar” uma máquina e/ou equipamento funcionário totalmente capacitado e, sobretudo, disciplinado para cumprir fielmente os requerimentos do cargo e tratar com muito zelo a máquina, ou as máquinas, que fazem parte de sua célula de trabalho.

De um lado é importante capacitar o operador e de outro instruí-lo quanto aos detalhes técnicos e de operação da máquina/equipamento e listar ações de sua responsabilidade. São pontos importantes aqui:

  • 1) o conhecimento do manuseio da máquina por parte de seu operador, até em questões de segurança do trabalho;
  • 2) dotar este operador de autoridade para interromper a produção caso observe alguma alteração no desempenho da máquina;
  • 3) exigir do operário que faça o registro diário em documento apropriado de como se comportou o equipamento em seu turno de trabalho;
  • 4) o operador deve deixar, quando aplicável, ciente o próximo “colega” sobre qualquer anomalia verificada ao longo daquele dia.

Por fim vale dizer que a tal capacitação da mão de obra do chão de fábrica inclui atualização periódica com cursos e treinamento interno e/ou externo.

Concluindo: enquanto a indústria 4.0 não se instala de fato, sempre existe oportunidade para melhorar o desempenho fabril e para tal é importante revisar as práticas, sem dúvida!

 

 

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