Nos dados compilados pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – referente ao trimestre abril/junho 2018 as pessoas com mais de quatorze anos participantes da força de trabalho e desocupadas somam quase treze milhões de cidadãos (mais precisamente doze milhões, novecentos e sessenta e seis mil) Este número representa 12,4% da população considerada engajada na força de trabalho.
O Brasil é de longe o pior colocado entre as economias tidas como emergentes e para 2019 recente trabalho divulgado pelo Banco Mundial (Global Economic Prospects) indica diminuição da taxa de desemprego para 11,7%. Sim…parece que haverá alguma criação de emprego até meados do ano que vem, independentemente de quem venha a ser eleito (a) como futuro Presidente da República.
Só para efeito de comparação veja quais são as taxas de desemprego e/ou desocupação estimada pelo Banco Mundial para algumas economias que selecionei: Estados Unidos (3,8%), Zona do Euro (7,9%), China (3,8%), Rússia (4,4%), México (3,3%) e Japão (2,2). Na casa dos dois dígitos só o Brasil mesmo e alguns outros países com menor representatividade no PIB mundial.
O melhor desempenho da economia brasileira relativamente à PNAD foi no trimestre outubro/dezembro 2013 quando a taxa de desocupados representou 6,0% da força de trabalho. Naquele ano a população brasileira estimada era de 201 milhões de habitantes dos quais 79,8% tinha idade superior a quatorze anos e destes 63,8%, ou 62,5 milhões de brasileiros, são considerados fora da força de trabalho. Hoje a população brasileira, segundo o IBGE, soma 208,4 milhões com 81,5% com idade superior a quatorze anos e 65,6 milhões não compõe a força de trabalho.
Em resumo: em pouco menos de cinco anos a taxa do número de desocupados, ou desempregados, dobrou (de 6,% para 12,4%) fazendo com que o total estimado de pessoas ocupadas gire em torno de 91,2 milhões contra 91,9 milhões no ano 2013. Simplesmente não foram geradas vagas neste período de tempo, e pior no geral o crescimento da população potencialmente ativa -“na força de trabalho”- está desocupada.
Mais alguns dados comparativos da população ocupada (em milhões), lembrando que no trimestre Outubro/Dezembro de 2013 era de 91,9 milhões caindo para 91,2 milhões no trimestre Abril/Junho de 2018:
Trimestre Out/Dez 2013 Trimestre Abril/Junho2018
Total Empregados 64,0 61,7
Setor Privado 46,8 43,8
Trabalhos domésticos 6,0 6,2
Setor Público 11,2 11,6
Empregadores 3,8 4,4
Trabalhadores conta própria 21,3 23,0
Trabalho familiar auxiliar 2,8 2,1
Estes dados demonstram claramente que houve encolhimento de vagas para emprego no setor privado parcialmente compensado por maior número de pessoas atuando no setor público, assim como de gente que se tornou empregador (abrindo franquias, por exemplo?) e quase dois milhões de acréscimo de brasileiros trabalhando por conta própria (autônomos).
Vale ainda fazer leitura atenta dos setores que mais diminuíram o número da população ocupada (em milhões e % de queda):
Outubro/Dezembro 2013 Abril/Junho 2018 Queda em %
Construção 8,1 6,6 (18,5%)
Agricultura e Pecuária 10,3 8,5 (17,5%)
Indústria em Geral 12,9 11,9 (7,8%)
Interessante observar que mesmo no setor agropecuário, que tem dado grande contribuição às exportações brasileiras de “commodities”, a diminuição de gente ocupada caiu consideravelmente o que pode ter sido motivado pela mecanização e adoção de novas técnicas de gestão.
À luz destes dados do IBGE é possível imaginar que a recuperação de emprego e trabalho no Brasil dificilmente derrubará a taxa de desocupados ao nível do ano de 2013 (6 milhões de pessoas ou 6,2% da força de trabalho) no horizonte de três e/ou quatro anos, infelizmente.
Há várias razões que inibem diminuição acentuada da taxa de desemprego, valendo citar:
- As dificuldades financeiras dos governos (federal, estadual e municipal) limitando a promoção do crescimento econômico com investimentos vigorosos em infraestrutura, por exemplo;
- A alta taxa de capacidade ociosa da indústria, além da apatia e insegurança do setor empresarial está freando a destinação de capital para expansão de fábricas;
- O mercado interno não mostra sinais de recuperação via aumento de demanda devido à queda de poder aquisitivo da população e do receio em fazer novo endividamento, pois há insegurança quanto a estabilidade dos empregos;
- A tímida presença do Brasil no comércio internacional e com exportações excessivamente dependentes de produtos de baixo valor agregado, como minério de ferro, soja, celulose…;
- A rapidez com que se dá a evolução tecnológica na área industrial com a tal de Manufatura 4.0 aumentando a produtividade no chão de fábrica. O mesmo se dá nas lavouras em geral com a introdução de maquinário moderníssimo;
- Falta de estímulo adequado para promover a abertura de novos empreendimentos de pequeno e médio porte. Aqui podemos citar a falta de linhas de financiamento de longo prazo e as elevadas taxas de juros cobradas pelos bancos, em geral.
Concluindo a situação de emprego e/ou trabalho no Brasil continuará difícil nos próximos anos e se algum destes candidatos de “plantão” para a Presidência da República prometer acabar com o desemprego duvide. E muito!!
P.S. em Janeiro deste ano, nesta seção de Economia, cheguei a cravar palpite de taxa de desemprego de um dígito (entre 8 e 9%), mas como podemos ver isto não ocorrerá e não é por culpa do cenário externo. É coisa de Brasil