Muita gente vê com temor os avanços tecnológicos no mundo digital, associando a eles a eliminação de postos de trabalho e marginalização de parte considerável das novas gerações. De fato, a Organização Internacional do Trabalho já havia alertado lá em 2014 que as nações enfrentavam crescimento do desemprego, e o índice em relação aos jovens atingia níveis recordes. A situação não parece diferente no Brasil, onde, segundo o PNAD do IBGE divulgado para o trimestre julho/setembro de 2018, o índice geral de desemprego foi de 11,9%, enquanto por faixa etária a população desocupada atingia 40% entre 14 e 17 anos e 25,8% na faixa dos 18 a 24.
Bem, o Brasil tem seus próprios problemas de desemprego decorrentes da forte recessão econômica e isso mistura as coisas. Veja abaixo como evoluiu o desemprego entre os brasileiros mais jovens:
Período Julho/Setembro 2012 Julho/Setembro 2018
14 a 17 anos 20,4% 40,0%
18 a 24 anos 14,4% 25,8%
Sim, os jovens têm enfrentado muita dificuldade para encontrar trabalho por aqui e lá fora!
No livro “No Ordinary Disruption – The Four Global Forces Breaking All the Trends”, publicado em 2015, os autores dizem que a elevação do desemprego nas economias avançadas poderia ser atribuída ao fato de que as empresas estavam adotando novas tecnologias visando o aumento da produtividade e transferindo atividades de produção para países de baixo custo de mão de obra, como China, Índia e outros situados na Ásia e até no Leste Europeu.
Neste texto, pretendo mostrar que nem tudo está perdido e que existem oportunidades para a “reinvenção” do trabalho, emprego e renda, e isso passa pelo enfrentamento de diversas questões não só no tocante à educação e capacitação no mundo dominado pela constante mutação provocada pela tecnologia digital. Além disso, o empreendedorismo parece fazer parte do DNA das novas gerações e isso é bom! Muito bom!
Na abertura do capítulo 8 do livro “Obrigado pelo Atraso”, do brilhante Thomas Friedman, está escrito:
“Vamos deixar uma coisa clara: os robôs não estão destinados a ficar com todos os empregos. Isso só acontecerá se deixarmos – se não acelerarmos a inovação nos domínios de trabalho/educação/startup, se não repensarmos toda a linha de montagem, da educação primária até a aprendizagem contínua, passando pelo trabalho.”
Não é objetivo deste texto destrinchar o tema do trabalho formal tradicional, porém é preciso mencionar que a chance de emprego e trabalho para os mais jovens e também para os das faixas de 30 a 50 anos exigirá constante investimento na capacitação e cada um deverá cuidar de sua carreira como se um negócio “startup” fosse. Não há dúvida.
O que interessa discutir aqui é que papel podem desenvolver os jovens – notadamente os que ficam na faixa do IBGE – de 14 a 24 anos?
Há vida fora do emprego formal tradicional de carteira assinada?
Sim, e a vida, em parte, será mais fácil de ser vivida para aqueles que consigam fazer aflorar o espírito empreendedor e que, com capacitação e suporte – de capital e gestão – possam participar dos avanços da economia digital. Essa é a opinião do Senhor Gestão. Aposto nisso!
A publicação especial do Valor Econômico de outubro de 2018 intitulada “ Inovação – Ação Imediata – Avanço da iniciativa privada contrasta com omissão do setor público” alerta para a falta de “empenho” das várias esferas de governo no tocante ao desenho de plano estruturado e bem executado para fazer o país acompanhar os passos de avanço na economia digital. Bem, todo o conteúdo é bastante ácido quanto a governos. Não é novidade, certo?
Vamos olhar o copo “meio cheio”?
As empresas mundo afora estão cada vez mais se associando e/ou dando suporte a empreendedores no sentido de trazer para dentro ideias, conceitos, produtos e serviços aos quais não teriam acesso em prazo curto e/ou teriam de investir muito para desenvolver internamente.
A situação não é diferente no Brasil e a própria publicação do Valor cita diversas dessas iniciativas em empresas de segmentos diversos, tais como: Saint-Gobain, TIM, Renault, Votorantim e Visa.
Sabemos também que o Banco Itaú, o Bradesco e outros criaram espaços físicos e de infraestrutura para acolhimento de empreendedores. Em outras palavras, tudo contribui para que o empreendedorismo do brasileiro possa deslanchar com maior rapidez e menor risco. Essa tendência nos negócios de empresas startups servirá, sem dúvida, para gerar renda, além de diminuir a fila dos “desempregados” dos mais jovens.
O “Valor Especial – Inovação” lista diversos setores de atividade nos quais a economia digital tem exigido e apresentado oportunidades para novas descobertas e gerado negócios nos segmentos de indústria farmacêutica, automotiva, de energia, de petróleo e gás, de mineração, de educação, de agronegócio, de higiene e limpeza, de construção, de embalagens, química, naval, logística (portos e aeroportos), de gestão pública, e de comércio.
Sem dúvida, não são poucas as oportunidades, e também se sabe que nem todas as ideias que estão “borbulhando” se transformam em bons negócios, portanto o índice de “quebras” de empresas startup é grande. Aliás, é assim em outros lugares do mundo. Para mitigar a “falha” no empreendimento é importante que essa “juventude” das startups busque apoio em gestão, pois a grande maioria tem ideias e está capacitada tecnicamente, porém falta, em alguns casos, cabelo “grisalho”.
Por outro lado, há carências de capital para dar suporte às boas oportunidades – veja o texto do Senhor Gestão “Financiando e estimulando a Inovação e o Empreendedorismo”, de 10 de abril de 2015 –, e outras questões muito relevantes estão reportadas na tal edição especial do Valor Econômico. Mas eu prefiro muito mais olhar o copo “meio cheio”.
O mercado de trabalho já não é mais o mesmo de antes para a criação de empregos, sobretudo os que geram maior renda. É preciso estar capacitado acima da média para ter ganhos superiores. E para aqueles que preferem empreender o ambiente é favorável e relativamente amplo.
Pense nisso!
Revisão de texto: Virgínia De Biase Vicari